Projeto Day After: o desertor

No diz 10 de junho eu fiz uma postagem sobre o dia seguinte de um grande conflito ou guerra. Os conflitos chegaram ao fim e os personagens voltam à sua vida comum. Comum para aventureiros, claro. A idéia me fez escrever sobre alguns arquétipos de personagem que podem surgir de situações assim. Cenários que lidam com guerras não faltam, como Eberron, Dragonlance, Tormenta e tantos outros. Por uma questão de justiça resolvi manter o material absolutamente genérico.

Hoje apresento o primeiro dos arquétipos: o desertor. Espero que gostem.

Backgrounds – Ou o que você fez durante a Guerra?

Todo material relacionado com o tema do Dia seguinte foi desenhado para ajudar a construir personagens que se sentem como parte de seu cenário favorito de jogos. Esta série de artigos vai ajudar o jogador e o mestre a responder algumas perguntas e dar algumas opções para quem estava “ativo” durante os eventos. Exemplos não faltam, desde bardos que estiveram à serviço da distante realeza como espectadores do conflito, passando por guerreiros contratados como soldados ou mercenários e até mesmo pessoas que usaram a guerra para sumir do mapa, assumindo a identidade de outras pessoas – falecidas ou não.

O que o seu personagem fazia durante a guerra? Ele era um soldado, um espião, um pacifista, um desertor? Mesmo que a sua campanha se passe após os eventos da guerra, as opções listadas abaixo ajudam você a costurar seu personagem nos eventos do seu RPG favorito.

O DESERTOR

“Então, depois daquela batalha, eu descobri que não valia à pena morrer por Roma. Nunca foi o meu sonho de infância, sabe?”

– Julius de Callais, ex-soldado da 3ª Legião Romana, norte da África.

As Guerras mobilizaram um grande número de soldados em intermináveis batalhas e escaramuças – fossem elas nas cidades, nos campos ou nas florestas.

Alguns soldados não estavam tão dispostos assim para lutar ou morrer por suas nações. Os motivos são variados e vão desde o simples pacifismo, rejeição aos motivos e modos da guerra, um simples desentendimento com um comandante superior, questões amorosas ou mera covardia. Seja qual for o motivo, você decidiu deixar de ser um soldado alistado e foi embora para algum lugar que seu reino não pudesse pegar você depois do conflito terminado.

Aventurando-se: Se combater na guerra não era para você, por que a vida de aventureiro? Matar monstros, explorar ruínas e masmorras e coletar tesouros? É quase certo que você não deixou o exército por algum pacifismo radical recém descoberto no campo de batalha. Pode acontecer, mas na maioria das vezes você simplesmente deixou de acreditar na causa pelo que estava lutando, ou fugiu de algum oficial superior abusivo – ou suicida. Ser aventureiro é bom para você porque dá a oportunidade de se associar com pessoas que você deseja, ou lutar pela causa que você escolheu (mesmo que ela seja apenas ganho pessoal – sabe como é, o soldo de um soldado é baixo comparado com o de um aventureiro).

Quem sabe, combater monstros é tudo o que você saiba ou consiga fazer depois de todo o treinamento militar que você teve e de toda a carnificina que presenciou. Talvez você encontre redenção de seus atos passados ajudando fazendeiros a combater trolls ou explorando velhas ruínas em busca de crianças desaparecidas.

Dependendo de onde você desertou, pode ser um tempero (leia “problema”) a mais na sua história. Se você lutou por Roma, desertou e se refugiou em Londinium pode ser complicado e arriscado voltar á velha pátria. Muitos de seus antigos companheiros podem estar vivos por aí… como eles reagiriam ao ver você? Desertar é um crime considerado hediondo: a sua cabeça estará sempre à prêmio.

Personalidade: Como muitos veteranos de guerra, você pode ser assombrado por aquilo que viveu ou pelo motivo que fez você deixar o campo de batalha. Você presenciou muitas batalhas sangrentas e ficou chocado com o resultado de suas ações? Você era submetido a abusos por parte de seus superiores, como marchas intermináveis, batalhas suicidas ou mesmo tortura física e psicológica por parte de um oficial em busca de glória? Você foi forçado a servir o exército para não ir para a prisão ou porque seu pai era fraco ou velho demais para servir ou coisa assim? Seja lá o que for, alguma coisa muito ruim aconteceu para que você escolhesse uma vida de fuga e paranóia ao invés de seguir a careira militar. Seja lá o que for, é por sua conta.

Comportamento: Você é um criminoso, sendo que o seu crime – se é que podemos chamar assim – foi decidir não matar mais. Você passou anos em fuga e acostumou-se a viver uma vida modesta, evitando chamar atenção, escapulindo de problemas sempre que estes dão os primeiros sinais no horizonte. Paranóico, você olha constantemente por cima do seu ombro, com medo do que pode encontrar. Usa sempre roupas neutras, comuns que não chamam a atenção, provavelmente com um capuz puxado por cima da cabeça ou um chapéu cuja aba sempre deixa seu rosto na penumbra. Mesmo suas armas não possuem qualquer assinatura especial. Você nunca consegue dormir profundamente, mesmo que esteja cercado por amigos e em segurança; sejam os perigos reais ou os imaginários, eles sempre estão no seu encalço.

Como você soa: Como você soa tem muito a ver com quanto tempo você passou no exército antes da deserção. Se você teve uma promissora ou longa carreira nas forças armadas é certo que você use o jargão militar. Mas se você era pouco mais de um recruta quando desertou com certeza você usará termos mais civis. Você costuma manter a voz baixa e os modos comedidos – afinal de contas ninguém quer atrair atenção indesejada, não é mesmo? E como até mesmo as paredes têm ouvidos, não devemos falar muito do nosso passado, certo?

Variantes: Existe um número infinito de variantes para este background, dependendo do motivo que o levou a desertar. Pode ser que durante o conflito você tenha se descoberto como um fervoroso devoto de Eirene (deusa romana da paz). Ou quem sabe você decidiu desertar pouco antes de uma missão suicida e descobriu, logo depois, que todos os seus amigos foram emboscados e mortos pelo seu antigo oficial comandante. Hoje você resolveu caçar o seu antigo superior no exercito e descobriu que ele é um poderoso vilão. Você pode, alternativamente, ter desertado por amor, para fugir com o grande amor da sua vida. Qual não foi a sua surpresa ao saber que a cidade onde a moça morava foi arrasada e quem não foi morto foi vendido como escravo?

Uma variante ainda mais excêntrica é o Desertor Arrependido. Você desertou, com certeza, mas arrependeu-se no meio do caminho e agora tenta voltar para o exército ou consertar as coisas que fez. Você pode se sentir responsável por algo bem maior do que você: se eu estivesse lá, no meu posto, a cidade não teria caído para os invasores pictos…