Perguntar não ofende… a não ser que o alvo seja uma mulher

Estamos vivendo uma época maravilhosa e ao mesmo tempo desafiadora para os direitos humanos. Se a pouco mais de 60 anos lutávamos pelos direitos civis das pessoas negras e a mais ou menos 26 anos caía o apartheid, hoje não podemos ter essas grandes conquistas como garantia. A eterna vigilância se faz presente para que não se perca o que se demorou tanto para conquistar.

Essa luta se estende para todos os ramos da humanidade: direitos iguais para homens e mulheres, pessoas trans, defesa do LGBTQI+ e por aí vai. E para mim tem sido uma honra ter acompanhado a história de desenrolar como tem acontecido, com algumas vitórias, umas tantas derrotas e muita, mas muita luta.

Mas essa coisa toda de proteção às minorias (negros, pessoal LGBTQI+, mulheres…) acaba criando um efeito interessante. O de não conseguir questionar uma mulher sem que pareça que eu estou duvidando da sua capacidade ou bancando o mansplanner (palestrinha).

Aconteceu comigo hoje eu fiquei bastante incomodado. Vi uma build para tormenta 20, de autoria de uma mulher chamada Camila Gamino.

A build dizia: “Em 1 turno eu dei mais dano do que um mata-dragão de 40d12. Vamos lá. Martelo de Guerra Atroz de adamante veloz com abençoar arma, arma mágica, potência divina, velocidade, sangue de ferro, surto heroico, inspirar glória e o CHOO (que é meu aliado fortão mestre – despertar consciência permanente). Clériga de Arsenal 12/ guerreira 3.

A sequência foi retirada daqui: https://twitter.com/CamilaGamino/status/1324478995187011584

Lá pelo meio da linha uma pessoa comentou “Fascinante… Até onde entendi, o final é cada ataque dando 6d6+11+força ou sabedoria (vou considerar +8, que é bem possível).  Aí com 4 ações padrões no total e um ataque extra com cada ação… temos acertando tudo 48d6+ 152… É… A bonecagem tá potente… Dano médio = 296…” e a autora respondeu: “É exatamente isso. Dei 300 e alguma coisa de dano pq ainda mais um buffzinho de aliado (esqueci de falar isso ali e não lembro qual agora). Se não fosse imune a dano elemental (era lefeu) ainda tinha mais 8d6 de dano extra da arma mágica.”

Toda vez que eu vejo um combo que eu não entendo muito, eu procuro a opinião de pessoas que entendem do assunto mais do que eu. Na boa, não seria a primeira vez que eu busco a opinião de pessoas mais capacitadas do que eu. Então eu fui até um grupo do facebook, e perguntei lá. Copiei o combo ipsilitri e perguntei para as pessoas se funcionava. Perguntei se funcionava porque quase sempre o combo é uma torção das regras para beneficiar alguém para além do comum. E qual não foi minha surpresa ao encara respostas como “Por que ela faria algo que não fosse válido? Acho que é essa a surpresa do pessoal.” Outra frase veio com um “Se ela diz que funciona você não acredita, mas se outro cara diz que funciona aqui no grupo você acredita piamente. Entendi”.

A impressão que eu tive é que não se pode questionar nada que seja criação de uma menina. É como se soasse mal. Teve até quem a chamasse de “deusa dos dados” e coisa assim. Não acho que tenha sido por isso que as feministas lutaram tanto – e ainda lutam hoje em dia.

Na boa? Não estava questionando quem fez, eu estava questionando o combo para ver se funciona. Afinal de contas todo mundo é humano e pode pensar que cria um negócio super legal e que no fim tem alguma regra que impede aquele troço acontecer. No fim das contas é um combo que funciona sim. A quantificação é: Dano da arma aumentado 3 vezes por Adamante, Abençoar Arma e Potência Divina (3d6), Aliado (3d6), Arma mágica +3, Sangue de Ferro+2, Atroz +2, Força ou Sabedoria (?) (Chuto um +8 fácil). Final 4 ações padrões cada um com dois ataques de 6d6+15.

O combo funciona? Sim, ele funciona, mas exige situações muito específicas para funcionar. Segundo explicações adicionais, a Velocidade é um aliado que costuma conjurar e 99.9% das vezes é ele o 1o a agir. Se a personagem já estiver com velocidade, conjura tudo numa rodada só, usando Reflexo de Combate, Prece de Combate e Magia acelerada. Porque ela também casta armadura de allihanna e arma espiritual. É uma coisa para bonecagem de alto nível, 15º nível e tals. Mas será que da próxima vez que eu vir um combo eu tenho mesmo que olhar o sexo da pessoa que o criou para saber se eu posso perguntar se ele funciona ou não?