Livros para quem quer ler

Vamos jogar bola! Não, vá ler um livro.

Este texto é uma atualização/releitura de um artigo que escrevi em 2008. Apesar de minha intensa falta de tempo, resolvi espremer alguns minutos da minha agenda para falar sobre esse assunto – que aliás eu considero de muita importância: temos que ler mais.

Hoje estava relembrando a conversa que tive com um amigo sobre livros, contos, estilos de escrever e coisas afins. De repente ele começou a me dar conselhos sobre narrativa, que o Trevisan (um autor que ele gosta) escreve assim e assado e tal… Bom, longe de mim recusar conselhos dos outros; eu os escuto bem, mas no final a decisão de segui-los ou não é sempre minha.  Entretanto o autor que ele se refere não é nem de longe um autor que eu considero de referência para o estilo que eu gosto. Sei lá. Não consigo gostar do estilo de narração que ele impõe nas suas histórias. Inevitavelmente o cara citou o Leonel Caldela, um autor moderno com ótimos resultados no mercado. Outro que eu não gosto. Sei lá, um pouco visceral demais.

Então eu lhe perguntei sobre outros autores que eu gosto e pelos quais me guio na hora de escrever. Autores de referência, que marcaram a minha infância e que de certa maneira me fizeram gostar desta arte quase esquecida de abrir um livro e ler seu conteúdo apenas por diversão. Sidney Sheldon, Giulia Moon, Trevinian, Aran, Marcos Rey, Lúcia Machado de Almeida, Maria José Dupré, entre outros. Ele disse que fora Sheldon que ele achava um “escritor de segunda” ele como universitário recém-empossado não tinha dinheiro para conhecer autores importados.

Daí eu expliquei – meio que em vão – que existem bons autores em português. Da lista que eu passei inicialmente pelo menos três são nacionais e o custa de seus livros é irrisório. Acabei citando a série vaga-lume, da editora ática. Ele perguntou do que se tratava. Fiquei meio espantado. Era a primeira vez que encontrava uma pessoa que gostava de literatura e que não conhecia a série. Respondi que era uma série de livros lançada na década de setenta-oitenta, paradidáticos, com foco voltado a literatura infanto-juvenil.

Pois não foi que ele usou a mais clássica das falácias que meus alunos usam para dizer que não gostam de uma coisa mais velha que de dois anos atrás: “Por isso ninguém vai conseguir ler. Tem mais de vinte anos. Você não pode esperar que um moleque leia algo fora da realidade dele sem achar chato pra cacete. Quer dizer, se ele pode achar coisa na linguagem dele em mangás e na internet, porque ler um livro? É triste, mas é verdade. Se você não torna algo atrativo para o seu publico alvo, eles não consomem”.

Puxa vida, tenho de dizer: doeu ler isso de um universitário. Eu vivo me esquecendo que a universidade tem pro obrigação dar apenas “informação”. A famosa formação que todos nós queremos vem única e exclusivamente da vontade própria e o hábito adquirido. Por todos os leitores de Guerra dos Tronos! Ele nem mesmo se deu ao trabalho de ler o livro, seja por que motivo for, e já saiu detonando o material como desatualizado, chato e sei lá o que mais. É como se eu ouvisse os alunos da escola reclamando dos livros que vão ter de ler sem nem ao menos terem aberto as publicações. Assumir esta postura é o primeiro passo para se tornar um leitor de sovaco.

Pelo argumento dele autores como CS Lewis, JRR Tolkien, Senno Knife, entre outros deveriam ficar relegados aos pacotes de três por um real, porque nenhum adolescente se interessaria em ler essas velharias. É o mesmo argumento que usam pessoas que tem preguiça de ler novos autores e ficam apenas com os que conhecem. É aquele cara que já leu Harry Potter dez ou quinze vezes (cada um dos livros) e não se anima a ler mais nada – nem temas correlatos como as aventuras do caça-feitiços.

Faz alguns anos recebi um convite para ver uma peça encenada por alunos de uma escola pública aqui da minha região sobre as obras de machado de Assis (e pasme, todos tem entre 12 e 16 anos). Não muito tempo atrás alguns alunos meus usaram a obra de Nietzsche “O Crepúsculo dos Ídolos” para fazer um filme policial. Material de primeira – levando e conta que nenhum dele poderia dirigir.

Desta forma eu venho fazer um convite aos amigos: que no ano de 2012 não sejamos mais tacanhos e acomodados. Não vamos jogar bola. Os sebos estão aí e bons livros são encontrados por uma ninharia. Procuremos novos autores e deixemos os autores de “nicho” de lado. Procure por títulos desafiadores, procure por gêneros novos, descubra novos horizontes e possibilidades. Depois, venha me dizer o que achou de ler velharias.

Recomendo para aqueles que não sabem por onde começar os livros da série “vaga-lume”. Sem dúvida alguma, é um marco na literatura brasileira direcionada ao público jovem, mas que fez (e faz) sucesso junto a qualquer idade.

Então, largue dessa  frescura de colheita feliz e vá ler um livro!