Contando como foi… ou não: uma análise de um D&D Game Day que não ocorreu.
Se os meus amigos se recordam, faz algumas semanas que eu fiz uma postagem sobre a minha possível última participação no evento D&D Game Day (foi no dia 15 de maio). Desde então eu tenho mantido um silencio respeitoso a respeito assunto. Mas como o Game Day já passou e todas as miniaturas de papel já foram guardadas está na hora de contar o que aconteceu – ou não aconteceu, naquele evento.
Recapitulando: A aventura não era ruim, estava anos luz à frente de Fuga de Sembia, mas ainda muito fraca. Resolvi reescrever o roteiro da aventura, mudando sua ambientação e mantendo apenas os NPCs e PCs originais. Ou seja, se o objetivo do dia era testar as novas opções do Livro dos Monstros, eles estariam todos lá.
Então no dia 18 eu recebi o seguinte e-mail, que reproduzo integralmente:
Valberto,
Nós da organização do D&D Gameday gostariamos que reconsiderasse sua opção de mestrar uma aventura diferente da apresentada pela Wizards of the Coast no evento do dia 23 de maio.
A razão para isso é que queremos manter o evento como ele deve ser. Caso você queira modificar partes da aventura, mantendo a essência da mesma, tudo bem.
Gostariamos também de deixar claro que não temos intenção alguma de minar a criatividade dos mestres inscritos mas somos terminantemente contra mudar o evento de forma tão drástica quanto você propõe.
Teria sido mais interessante que você se dirigisse a nós via email antes de postar no orkut daquela forma, mandando “para o raio que o parta” a aventura original e, de quebra, a organização do evento.
Estamos tentando fazer o evento com seriedade para que os futuros RPGs Itinerantes, Gamedays e etc sejam exemplo em Brasília e no resto do Brasil. Portanto, esse tipo de mudanças precisam ser discutidas conosco antes de simplesmente comunicar publicamente sua decisão.
Caso não se sinta à vontade para mestrar a aventura oficial, nos avise o quanto antes para que possamos tomar providências para evitar mudanças de última hora no evento.
Grato.
Organização D30 DF
Este e-mail foi respondido ainda no mesmo dia:
Caras, com todo o respeito, o “para o raio que o parta” que mandei foi a aventura. Na pior das hipóteses foi uma expressão idiomática. Em momento algum eu comentei acerca da organização do evento, que, ao que me consta, vai muito bem. O objetivo da aventura é demonstrar a mecânica e os monstros da nova edição, assim como as classes. Desse modo a aventura que eu proponho ainda vale do ponto de vista que cobre essas mesmas opções. Os mesmos monstros serão usados, mas em cenários diferentes.
Serei sincero e até mesmo um pouco “não cortês”: a aventura oficial, do jeito que está não me interessa ser mestrada. Ela não tem o nível de qualidade mínimo que eu exijo para minhas mesas: é descerebrada e até certo ponto, sem sentido algum, como um filme de ação estilo “sessão da tarde”. Se a condição para minha participação no D&D Game Day for a aventura “tal e qual” veio da Wizards, podem tomar as providências desde já para que o meu nome seja retirado do staff do mestres sancionados pela RPGA.
Mais uma vez reitero que eu louvo a preocupação de vocês e desejo realmente muito sucesso, não apenas para o grupo que eu ajudei a fundar, como também ajudei a batizar. Desejo também que o evento seja um sucesso “comigo ou sem-migo”. Vocês respondem á forças superiores a vocês – os organizadores da devir ou da wizards e tenho certeza, estes não devem estar satisfeitos com a voz dissidente que eu sou.
Mais uma vez quero deixar claro que não guardo mágoas ou ressentimentos. Façam aquilo que for melhor para o evento e façam o que fizerem, espero que não venha a afetar nossa amizade.
Sinceramente,
No próprio dia 18 recebi mais uma resposta:
Valberto,
Respeitamos sua opinião com relação à aventura oficial. O problema todo e que, como queremos fazer tudo de acordo com as regras do RPGA e dos Gamedays, mudar a aventura realmente desvirtua o evento.
Não respondemos à Devir mas sim ao RPGA, pois o evento tem que ser reportado e para tal deve seguir as regras fielmente.
Ainda gostariamos que você mestrasse dentro desses termos. Se você não quiser fazer isso, esperamos que ao menos participe como jogador numa das mesas.
Lembramos que de forma alguma queremos tolir a criatividade dos mestres inscritos ou ainda forçar as “ordens” superiores. Queremos apenas fazer o evento da melhor maneira possivel.
Aguardamos uma resposta final.
abraço
Organização D30 DF
Assim, como esperavam uma resposta de mim, eis que a postei em seguida:
Amigos,
Espero que entendam a minha posição. Eu já estou ficando muito velho para fazer, nas horas vagas, aquilo que eu não gosto. Não é segredo que não gosto do novo D&D. Acho-o insosso. Deslocar-me para mestrar uma aventura que eu não posso mudar torna-se para mim uma obrigação e não um prazer. Entendo a necessidade do oficial, mas também respeito muito as vontades deste velho coração. Quero que entendam que não se trata de birra infantil (se não for do meu jeito eu não jogo). Não é nada disso. É uma questão de escolha de como eu vou passar o meu pouco tempo livre. É uma escolha de coração, mas não deixa de ser uma escolha; e em toda escolha sempre há uma perda. Aqui estou a decidir entre amigos queridos ou um sistema e aventura tacanhos.
Antes de responder deixo claro que para fins de experimentar regras, criaturas, classes e poderes a aventura que eu desenhei serve muito bem. Ela até mesmo envolve os personagens da aventura original sem retirar-lhes nada ou quase nada de seus backgrounds. Mas ela não conta com a oficialidade exigida para o evento.
Eu já havia me decidido por este ser, de qualquer maneira, meu último D&D Game Day por alguns anos – pelo menos até a Wizards afrouxar essa cordinha do controle sobre os jogadores.
Farei o possível para comparecer como jogador. E deixo a disposição as fichas em preto e branco que imprimi para o evento.
Mais uma vez, agradeço a compreensão de vocês e saibam que independente de ser game day ou não, continuarei a torcer pelo sucesso de todos vocês.
Fato é que eu não fui ao evento. Tive uma reunião pesadíssima no colégio na manhã do evento e iria depois do almoço, mas acabei repesando o meu cansaço com relação a diversão que eu teria com a aventura. Não valeria à pena o esforço. Rodar tantos quilômetros para ver uma aventura descerebrada, com combates chatos e demorados… bom não é para mim. Para combates estratégicos eu já tenho o final fantasy tactics do PS1, que é muito melhor que o D&D 4E no aspecto que se propõe: história e sistema de combate.
No mais, acho que eu devia essa explicação para alguns amigos que estavam já me perguntando como tinha sido a aventura. Mas provavelmente a aventura ainda será mestrada (a versão modificada), pelo menos, na RPGCon.