Quando Marcelo Del Debbio me disse que ia fazer o tal livro fiquei com um pé atrás. Fantasia Medieval no Brasil? Será que dá certo? Mas quando pude colocar as mãos no livro, não hesitei em nenhum momento em comprá-lo.
O livro inteiro é uma grande piada. É como se Monty Pyton tivesse vindo ao Brasil e feito um filme sobre os jogadores de Fantasia Medieval do Brasil. Muito divertido, mas com toques sérios o bastante para você conduzir uma campanha sem cair na esculhambação.
Uma analogia interessante para Hi-Brazil seria que ele esta para o RPG de fantasia medieval assim como o Massacration (MTV, Hermes & Renato) está para o Heavy Metal. É apenas uma grande piada, bem humorada, que nos faz não apenas rir de nós mesmos e de nossos costumes, mas nos ajuda também a refletir sobre certos momentos e fatos de nossa história.
Provavelmente eu jamais use o livro para mestrar, seja lá o que for, justamente por ter muitos outros bons títulos na fila, esperando a vez.
E também porque o tema não me atrai de todo. Mas isso não invalida nenhum dos pontos positivos ou negativos do livro. A minha opinião, neste caso, não passa de uma informação subjetiva, desnecessária ao cerne da discussão. Uma análise do livro nos permite inferir alguns de seus pontos fortes:
– 140 páginas, sendo que a maior parte é usada para descrever o cenário;
– sistema “stand alone”: você não precisa de mais nenhum livro da Daemon para jogar Hi-Brazil;
– preço convidativo: por 26 reais e 10 centavos você não compra nenhum dos livros de Forgotten Realms, Mystara, Darksun, ou mesmo Tormenta, o que faz de Hi-Brazil o cenário medieval mais econômico que existe a disposição no Brasil.
– é um cenário de fácil adaptação e transformação: por ser um cenário baseado também na história recente, você pode modificá-lo à medida que a história real do Brasil avança. Ou seja, existe uma disputa política para saber quem vi ser o novo Burgomestre de São Paolo e sim Serra;
– além de ser divertido, o livro é um convite para o estudo mais a sério das particularidades nacionais;
– tirando talvez uma ou outra descrição menos elogiosa o livro como um todo é coeso, bem escrito e sem pontas soltas.
Mas longe de ser perfeito o livro aponta alguns erros, que poderiam ser consertados em futura edição:
– optou-se por uma impressão “lavada”, no estilo “xerox de qualidade” com o claro intuito de baratear o livro. Entretanto o barato sai caro, pois alguns mapas e ilustrações perdem por demais a qualidade;
– o livro segue o Formato Daemon de livro. Mas é um formato já um pouco batido. Seu design interno não é inovador, embora seja funcional;
– falta um índice remissivo! Talvez a mais imperdoável das falhas do livro. Ás vezes perde-se muito tempo indo e voltando no livro em busca de uma simples informação, como um nome ou referência.
Somando pontos altos e baixos, Hi-Brazil ainda segue com vasta vantagem positiva. Não entendo a raiva que algumas pessoas demonstraram sobre o livro, ou os produtos Daemon em geral, sem demonstrar qualquer argumento que passasse do lugar comum. Em tempo: citar o que eu faço, deixo de fazer, ou a minha instrução não fortalece meus argumentos, muito pelo contrário. Desmerecer a opinião alheia atribuindo adjetivos desfavoráveis para quem gosta ou desgosta do livro também não é uma atitude construtiva nem inteligente.
Dentro dos argumentos que apresentei, se você não tem grana para comprar um RPG grande como Tormenta ou FRCS, Hi-Brazil não é apenas uma boa opção. Ela é uma das melhores.
Hi-Brasil é um livro é um livro que brinca com a nossa capacidade de rir de nós mesmos. O RPG costuma ser visto no Brasil como uma coisa distante, gringa, presa aconceitos que não nos pertencem, uma esquisitice de americanos e franceses. Ou então como um bando de sistemas e livros que de tãp tangíveis e historicamente construidos acaba ficando incompreensível para a maioria dos mortais. A grande preocupação e talvez o maior mérito do Hi-Brasil é trazer esses conceitos para o solo no qual pisamos no dia-a-dia, fazendo uma indagação crítica e ao mesmo tempo bem fantasiosa daquilo que nos é próximo, das formas que nossa cultura particular usa para nos construir como seres humanos, povo e jogadores de rpg.
Hi-Brasil faz uma crítica da forma que nós, brasileiros, nos aproriamos da tradição americana e européia. O livro tem uma visão muito particular. é uma crítica a cerca do que nos faz dignos ou indignos de rolar iniciativa.
Mas Hi-Brasil padece de um crime que apenas Millor descreve: “tudo o que eu digo, acreditem, teria mais solidez, se em ver de carioquinha , eu fosse um velho chinês”.
Hi-Brasil é um livro fantástico. Engraçado e crítico. Tem espaço para ele e para a relíquia que é Desafio dos Bandeirantes. Na verdade, sempre há espaço para mais um.
Se você tem dinheiro sobrando ele também é uma boa opção. Mesmo que jamais usei o livro para nada, ele vai fornecer a você uma crítica loquaz e por vezes ácida de como a nossa amada (salve, salve) pátria se formou. Além de ser um convite para a boa leitura e para o riso fácil. Pading Cicer é uma piada muito legal (eu sou de Juazeiro do Norte e não me ofendi com isso; Por que deveria?).
No entanto, se você é daqueles mais ortodoxos, mantenha distância segura de 30 fts do livro. Não é nada que você vá gostar, não importa que argumentos eu utilize.