Pequenas Dungeos & Grandes Dragões.

Ou , tocando o seu negócio em Dungeos and Dragons.

Todo brasileiro da minha geração (nascido e criado nos anos da terrível inflação) é meio que um especialista nato em economia. Era uma questão quase de sobrevivência saber ler o que dizia o mercado e os preços naqueles dias de inflação beirando os dois mil por cento ao mês.

Além de bom brasileiro, também sou professor de história e “descobri” que quase tudo que rola na história do mundo gira em torno do comércio. Como dizia a minha professora Lélia, de história econômica do Brasil, “compreender onde está o dinheiro e como ele passa de mão em mão é compreender como se desenrola a história”.

Daí eu pensei em como levar um pouco disso para a minha mesa de jogo…

Não! – Grita o rapaz, amigo meu, caixa do BRB – quando você trás coisas do mundo real para a mesa de jogo alguma coisa de fantasia morre!

Não se preocupe amigo Eugênio. Eu pretendo apenas dar ferramentas ao mestre do jogo para que ele possa criar plots mais interessantes do que “um bando de orcs sequestrou a filha do duque e vocês vão ter de resgatá-la”.

Bom, pensando economia em mundos pseudo-medievais eu separei alguns recursos – naturais ou não – que fazem com que a economia do lugar gire a ponto de que tenha dinheiro circulando para pagar aos personagens. Três estágios (ou passos) dessa economia:

  • Coleta de recursos;
  • Produção de bens;
  • Serviços.

Mercadorias são coletadas no estagio 1, chamadas aqui de recursos. São usadas no estágio 2 para se produzir coisas com elas. Em seguida, criei uma lista de indústrias nesses setores que podem se tonar ativas nesta economia. É neste estágio que alguém (jogador ou NPC) compra de terras, equipamentos e instalações, em seguida, executa determinada função.

Mais ou menos assim: A região de Darden é muito rica em diversos tipos de uvas (recursos). As uvas são colhidas e convertidas em diversos vinhos (produção) que são exportados para o mundo inteiro, graças ao movimentado porto de Darden. Com o tempo as grandes vinícolas se uniram sob o selo da Guilda Vinícola de Darden (serviço).

Seguem as listas que eu organizei:

Recursos:
Açúcar

Algodão

Cânhamo

Cerâmica

Chá

Ervas medicinais e recreativas (plantas)

Frutas

Gemas

Grãos

Linho

Madeira

Metais comuns (ferro, cobre, etc)

Metais luxuosos (ouro, prata, etc)

Pecuária

Pedra

Produtos de Origem Animal Silvestre (peles, marfim, gordura de baleia, etc)

Seda

Temperos

Tinturas

Vidro

Indústrias:
A colheita de Recursos

Companias de Caça (produtos de origem animal selvagem)

Empresa de Pesca (peixe)

Lenhadores (madeira)

Minériadores (cerâmica, pedras preciosas, metais comuns, metais de luxo, pedra)

Plantation (algodão, corantes, frutas, seda, especiarias, açúcar, chá)

Produção (linho, grãos, cânhamo, ervas)

Rancho (pecuária, lã)

Produção:
Alquimia (usa ervas, pedras, produtos animais selvagens)

Arqueria (utiliza madeira, pontas de pedra ou ferro, penas de animais)

Arte (usa pedra, corantes, papiros, telas)

Carpintaria (utiliza madeira)

Cerâmica / Papelarias (usa cerâmica, plantas, papiro, tintas, corantes)

Couraria (usa animais, produtos animais selvagens)

Editora (usa madeira, cânhamo, papel, papiro, cola)

Fabricação de bebidas (usa grãos, frutas)

Ferraria – Bens comuns (usa metais comuns)

Ferreiro – Armaduras e armas (usa metais comuns)

Joalheiro (utiliza metais de luxo, jóias)

Lapidação de pedras (usa pedra)

Moinho / Refinaria (usa grãos, açúcar)

Sapateiro (usa couro)

Serralheiros / relojoaria (usa pequenas quantidades de recursos de outros recursos, além de vidro)

Têxteis / Alfaiate (usa algodão, corantes, linho, cânhamo, seda, lã)

Produçãoavançada:

Construção Civil (usa madeira e pedra; marcenaria e corte de pedra shop)

Estaleiro naval (usa madeira e cânhamo, carpintaria e têxteis)

Serviços:
Ancoradouro

Bordel

Cassino

Compania de Comércio

Empresa do Trabalho

Empresamercenária

Escola

Escritório de advocacia

Escritório de auditoria

Estábulos

Hospital

Jardim zoológico

Pousada

Restaurante

Taverna

Teatro

Templo

Universidade

Vejamos o nosso exemplo inicial. A região de Darden é muito rica em diversos tipos de uvas (recursos). As uvas são colhidas e convertidas em diversos vinhos (produção) que são exportados para o mundo inteiro, graças ao movimentado porto de Darden. Com o tempo as grandes vinícolas se uniram sob o selo da Guilda Vinícola de Darden (serviço). Para guardar os vinhos produzidos a cidade precisa de barris e barricas madeira. Essa matéria prima e fornecida pela Guilda dos Lenhadores, que vende a madeira a Guilda dos carpinteiros de Darden, que por sua vez, revendem os barris para a Guilda Vinícola. Alguns vinhos especiais são exportados em garrafas – essas são compradas da única oficina de soprador de vidro da região. Cada vinícola tem seu próprio alquimista que garante a qualidade a do vinho – a reputação dos vinhos de Darden não pode ser maculada. Como a região tem sua agricultura voltada basicamente para a produção de vinhos, quase toda a comida (grãos, frutas, artigos de pecuária) vêm de pequenas unidades de produção familiar de subsistência ou são importadas.

Tá, e o que isso serve para as minhas aventuras? Bom Darden é por si só um cenário rico. Digamos que alguém ou alguma coisa está atacando/sequestrando os lenhadores. Toda a produção de vinhos vai parar porque não existem barris para escolar a produção. E se alguma coisa afetar o porto – digamos algo que impede os navios de chegarem a Darden. Toda a sobrevivência da população está ameaçada. Ou talvez, alguém esteja falsificando o vinho da região. Em qualquer dos casos a Guilda ficará bem satisfeita em pagar para que o problema seja resolvido.

Leve em consideração que eu não coloquei aqui nenhum item fora do comum. Digamos que para fazer uma poção alquímica especial você (ou a guilda de alquimistas) precise de um frasco de sangue de Doppleganger?

Possibilidades.

Eu sempre uso a ideia de “um grande benfeitor que depois se mostra como o grande vilão da história”. Na aventura que vou mestrar os jogadores serão convidados a fazer trabalhos para esse cara. Ele sempre paga bem e as missões parecem sempre trazer o mundo para um lugar melhor. Coisas como “Naquela ilha tem uma fazenda clandestina de escravos. Vão até lá e libertem os homens que lá estão cativos”. Tudo bem. Os jogadores fazem isso e mataram boa parte dos feitores de escravos lá. Dois navios vieram buscar os jogadores e os escravos. Um para os jogadores e os escravos e outro para o açúcar refinado que era produzido lá. 200 sacas de 60 kg de açúcar – que vai ser vendido para financiar a vida nova dos cativos. Logo depois de deixar os jogadores no porto, o navio levará os ex-escravos de volta para a ilha para continuarem seu trabalho. Ou seja, agora o “bem-feitor” tem agora uma ilha particular, com uma renda anual de 250 mil peças de ouro, e se alguém for levar a culpa serão os personagens.

Bacana, não e?

Testando Opções com o D&D next

Testando opções do novo D&D – O guerreiro do povo com uma arma enorme

 gsf

Um dos meus maiores passatempos é fazer fichas de personagem, com história e tudo mais. Nunca se sabe quando é que eu vou ter a oportunidade de sentar e jogar numa mesa e tendo esse pequeno estoque de personagens prontos ajuda bastante. E se tudo mais falhar, eu sempre terei algum NPC a minha disposição para apimentar uma aventura.

Pensando em Numenera eu resolvi usar o seu sistema de caracterizar personagens para descrever o personagem. Assim ele ficou como “um forte herói do povo que luta com uma espada de duas mãos”. O resultado final ficou muito bom. Um cara estilo herói do povo, vindo de uma família nobre em decadência (os avós eram nobres em decadência – ele herdou apenas um nome que um dia foi respeitado e famoso). Ele vivia num ducado isolado com a sua família. Treinava com a espada quando não estava trabalhando nos campos. O pai era um mago (já falecido) e sua mãe havia crescido em outras terras (ela é que diz que a família do personagem tem algum título de nobreza menor).

O duque local sempre fora um tipinho miserável, arrogante e covarde. Isso ficou claro em várias ocasiões. Mas foi quando o ducado foi atacado por uma força invasora de orcs, liderada por um ogro, que essa impressão deixou de ser impressão e passou a ser realidade. Ao invés de liderar seus soldados para enfrentar os saqueadores o Duque trancou-se em seu castelo, cercando-se de todo tipo de defesas. O povo que se virasse com a situação. Alguns acamparam nas cercanias do castelo esperando que o Duque abrisse os portões e os acolhesse. Outros fugiram para outras terras e um número bem maior caiu vítima dos saqueadores.

Coube ao herói (estou sem ideias para dar-lhe um nome) organizar a resistência. Depois de enviar os mais velhos e fracos para outras terras mais seguras ele liderou a população numa série de batalhas sangrentas para recuperar a terra. Apesar da dureza da situação o líder dos invasores foi morto em batalha perto do castelo do Duque. Aclamado pelo povo como seu defensor o jovem herói foi forçado a deixar sua terra. Ele tinha descoberto o gosto pela aventura e o pequeno ducado de poucos acres de extensão já não era grande o bastante para ele. O Duque organizou uma festa de despedida para o herói e comemorou junto com o povo a partida do grande defensor. Mas secretamente o duque odeia o jovem, afinal foi ele quem expôs para a população a sua natureza covarde. De tempos em tempos ele contrata assassinos e mercenários para dar fim ao herói de sua terra.

Guerreiro Humano 5

For 18, Des 09, Cons 15, Int 13, Sab 14, Car 11. Iniciativa -1, PV 44 (Fôlego: 1d10+5), CA 16. Ataque Espada de duas mãos +7, dano 2d6+4 (19-20). Perícias: Percepção, Intimidação, Cavalgar, Atletismo.