Os novos heróis do Olimpo – Capítulo 16

A busca começa

Oliver, Eric e Nath estavam reunidos no recém-aberto chalé de Astréia, batizado pelos campistas de “chalé 00”. Como ainda não tinha nenhum móvel o dia foi de presentes de boas vindas dos outros campistas. O Chalé de Atena doou mesas de estudo, cadeiras, estantes e uma centena de livros de astronomia, enquanto que o chalé de Afrodite se encarregou da decoração do quarto de Oliver. O chalé de Hefesto tratou de trazer luz elétrica e foi um verdadeiro desafio não poderem furar as paredes para instalar as lâmpadas, tomadas e luminárias. Acabaram por fazer um sistema de fios e tomadas externas em canos de pvc, coladas com adesivo plástico. Não ficou muito bonito, mas funcionou. O chalé de Ares trouxe armas e armaduras. Uma das meninas, Karina, se ofereceu para ensinar algumas técnicas de espada longa para Oliver no seu horário livre. A cozinha e a área de jantar ficaram por conta de Drielle, a filha de Dionísio. Oliver achou que a cozinha tinha ficado mais sensual que muitas fotos de cabaré que ele tinha visto na internet. Fazia parte da tradição dos chalés, fazer com que os novatos se sentissem bem-vindos. Era estranho se sentir bem-vindo quando aqui a pouco, não se sabe quanto tempo, Oliver e seus dois companheiros (e mais dois que ele não conhecia ainda) teriam que sair numa jornada perigosíssima.

Eric por sua vez estava se sentindo verdadeiramente com seus novos irmãos. O chalé 11 era divertido demais. Sempre tinha alguma coisa legal acontecendo. Apesar disso, passava boa parte do dia dividindo-se com as tarefas do chalé, o treinamento com Karina e ao lado de Oliver. Aliás, parecia a sombra de Oliver.

Não obstante a palavra corria por todos os campistas que qualquer pessoa com tatuagens diferentes deveria se reportar imediatamente ao conselho. Ninguém tinha aparecido ainda, mas era apenas uma questão de tempo. Pelo menos esperavam que fosse. Se além de achar a localização do pergaminho, libertar Zeus e sobreviver ao processo os jovens heróis tivessem que achar mais dois meio-sangues a coisa ia ficar realmente feia. Claro que alguns campistas estavam fora – levando suas vidas fora do santuário o que dificultava a busca. Quem poderia garantir que um dos que estavam de férias não era um dos escolhidos?

Sentados no que foi batizado por Eric de “sala de reuniões estrelares” os três discutiam o que sabiam. Já tinha posto Dezan e Nath a par dos agentes de preto e dos arquivos de computador com seus próximos alvos. Os arquivos foram dados aos melhores hackers do chalé de Atena. Se alguém poderia descobrir quem era o próximo alvo dos agentes – que tinha grandes chances de ser o próximo herói da profecia – eram eles. Na verdade, era ela: Júlia, apelidada pelas amigas de chalé como “Bêpê” trabalhava dia e noite para decifrar o código. Até o final da tarde teria alguma coisa.

Por outro lado nenhuma mensagem dos deuses patronos. A palavra que corria á boca pequena é que eles estavam em reunião no Olimpo, portas fechadas, decidindo oque fazer.

– De alguma forma as coisas devem se encaixar. Vocês estavam sendo caçados por inimigos que o Santuário jamais experimentou. Os homens da Giges já são velhos conhecidos. São asseclas de um gigante monstruoso chamado Giges. O santuário já os enfrentou antes e os derrotou. Mas os homens de preto são outra história. É uma cepa completamente nova de inimigos. Provavelmente esses inimigos já soubessem da existência do pergaminho áureo e estavam buscando vocês para achá-lo. De qualquer forma continua sendo uma corrida contra o tempo – concluiu Nath depois de discutirem a manhã inteira sobre o assunto.

– Agora temos que achar os outros caras da profecia. Você acha que podem estar aqui no acampamento? – Oliver perguntou enquanto pensava se o ombro não ia parar de doer depois de um golpe bem colocado por Karina durante sua última sessão de treinamento. Sem a espada mágica Oliver era tão ruim com armas como sempre foi.

– Podem sim. A minha tatuagem apareceu apenas recentemente, depois da luta com o lobisomem. Pensei que fosse algum tipo de dádiva por minha bravura, mas Ares não faria nada assim tão elaborado. Ele é mais prático. Outra coisa: depois da tatuagem eu senti que minhas habilidades como filha de Ares aumentaram imensamente.

– Pode ser que a tatuagem só se manifeste pela primeira vez em momentos-chaves de tensão. Mas mesmo assim, não sei se posso imaginar que momento poderia ser mais tenso do que aquela luta na arena. – disse Eric depois de engolir alguns bolinhos de morango que tinha surrupiado da cozinha da casa de Demeter – Eu conversei com outros irmãos do chalé de Hermes e parece que eu sou o único que tem tatuagens. Mais uma coisa: parece que sou o único que tem todos os vales-brindes num único pacote.

– Pacote? – Oliver olhou intrigado para o amigo.

– Hermes é um deus mal compreendido. Ele é o deus do comércio, da enganação, dos correios e mensageiros e dos ladinos. Cada filho de Hermes tem poderes relacionados com uma dessas áreas: ou são aqueles de boa lábia, ou são bons atletas, ou são bons com fechaduras e coisas afins. Pelo que eu vi e testei sou bom com tudo isso. Não temos outros filhos de Astréia para comparar, irmão, mas acho que você é o super sayajin 4 com kaio-ken dos filhos de Astréia.

Nathália fez uma cara de quem não estava entendendo muita coisa do que o amigo falava. Na verdade ela entendia pouco ou quase nada das referências de Eric e contava com Oliver para traduzir. O que nem sempre era tão elucidativo quanto ela gostaria. Na vida de Nathália nunca houve muito tempo para animes e jogos de videogame. A disciplina que a mãe impunha, mesmo antes de chegar ao Santuário nunca deixou muito tempo para alguma coisa que não fosse leitura. O que era complicado com a dislexia que era famosa por acometer todos os campistas. Mas de alguma forma ela conseguia ler. “Ler é como se fosse uma guerra”, disse sua mãe uma vez. Uma guerra que Nath fazia questão de lutar e às vezes até conseguia vencer.

– Nathália, você conhece em os outros campistas. Sabe quem poderia ter desenvolvido uma tatuagem dessas? – Oliver perguntou sem tirar os olhos de frank.

– Nath. Os meus amigos me chama de Nath.  “Nathália” é muito longo. – ela olhou longamente para Oliver antes de continuar – Eu penso em alguns nomes, mas não sei. Se alguém tem essa tatuagem por que não se mostrar de uma vez? O que eles poderiam querer esconder?

– Não sei. Talvez tenham medo. Talvez não queiram ser filhos de deuses. Talvez não queiram sair pelo mundo em busca de um pergaminho dourado. Talvez queiram apenas ter uma vida normal, como a maioria das pessoas.  – Eric soou filosófico e estranhamente charmoso ao terminar de falar – quer dizer, eu não sei o que é ter uma vida normal. Não sei o que é passar dois anos na mesma escola. Nãos ei o que é passar natal em família ou comemorar dia dos pais sem que homens de preto armados com pistolas de raio saiam das sombras para me caçar.

Finalmente resolveram descer as escadas para o almoço. Duas refeições no dia eram servidas na cantina: o almoço e o jantar. Era o momento de dar os recados e colocar a conversa em dia. As demais refeições eram feitas pelos próprios campistas em seus respectivos chalés.

Ao seguirem para o almoço, Nath resolveu passar antes pelo estande de arqueria. Ela sabia que encontraria Jade lá, treinando como sempre. Aliás, como se ela precisasse – pensou Nath enquanto seguia pela estrada pavimentada. As duas eram amigas desde o dia que chegaram ao santuário, mas faz mais ou menos um ano que Jade se afastou. Nath não conseguia imaginar o motivo, mas sentia falta da amiga. Ao chegar perto, ouviu o som característico das flechas atingindo o alvo. Ela parou a distância para ver o espetáculo: flecha após flecha Jade acertava o centro do alvo. E nas últimas cinco, cada flecha nova partia a anterior. Mas havia alguma coisa errada. Ao ficar sem flechas jade jogou o Arco no chão com força e quase arrancou a aljava vazia de suas costas. Então ela caiu de joelhos no chão e as lágrimas rolaram por seu rosto. Os dedos estavam feridos. Cortados pela repetição com as cordas dos arcos. Ataduras sobre ataduras misturavam-se numa pasta ocre avermelhada de sujeira, suor e sangue. Foi que ela notou Nathália.

Instantaneamente as lágrimas secaram e a expressão de dor deu lugar à raiva. Os olhos vidraram, brancos e leitosos, sem expressão quando ela abaixou-se para pegar o arco.

Nath sabia que não teria chances contra a amiga se ela usasse o arco. Era o seu dom nunca errar o alvo. Jade poderia despachar uma flecha entre os olhos de Nath e nenhum poder de nenhum filho de Ares seria capaz de impedir. Mas Jade estava sem flechas. As que estavam em condição de serem disparadas estavam no estande, cravadas junto com a almofada de alvo, que mais parecia um porco espinho. Jade saltou a bancada e correu para as flechas. Nath correu também, retesando cada músculo de seu corpo em busca da explosão de energia que apenas o desespero e a adrenalina dão no sangue dos filhos dos deuses. Mas já nas primeiras passadas ficou claro que ela não alcançaria Jade antes que a mesma tomasse posse das flechas.  A sua mente raciocinou e ela deslizou no chão agarrando uma pedra.

O arremesso foi veloz e poderoso: uma pedra ovalada e lisa de quase meio quilo disparada com a força equivalente a uma bola de futebol chutada por um artilheiro. Se houvesse como filmar e calcular passaria fácil dos 140km/h. a pedra destroçou as flechas que jade estava em vias de alcançar, fazendo a mão da arqueira recuar.

Jade não ficou na defensiva por muito tempo. Ela deslizou para trás e danou-se a correr na direção de Nath. Segurava o arco pela ponta, usando o mesmo como um tacape. O primeiro golpe passou longe da cabeça de Nath – se é que ela estava mirando lá. Nath esquvou-se com facilidade dos dois golpes seguintes: o primeiro descendeu pelo flanco esquerdo, num arco de movimento longo e o segundo foi mais curto e contido, como uma estocada rápida. Nathália esperava o próximo golpe para tomar o arco das mãos da amiga e foi isso que ela fez: posicionou os pés e aparou o golpe com firmeza. Jade não fez questão de lutar pelo arco, largando-o em seguida, seu rosto preenchido por um maligno sorriso escancarado. Da manga da sua blusa surgiu uma adaga. E tão rápido quanto ela surgiu da manga de Jade ela se enfiou nas costelas de Nathália.

O corselete de couro absorvera quase todo o golpe, mas a ponta da adaga conseguira penetrar o bastante para fazer verter sangue. Nathália sabia que o golpe naquele momento não era mortal, mas em poucos minutos a perda de sangue a faria fraquejar. E fraquejar numa luta como aquela era pedir para encontrar a morte.

Jade atacou seguidas vezes, fazendo a adaga dançar em suas mãos. Cada esquiva de Nathália a deixava sem energia e as opções estava chegando ao fim. Ela procurava uma brecha para desacordar sua amiga sem machucá-la muito. Estava claro que alguma coisa havia possuído o corpo de Jade. E estava fazendo bom uso dele.

Por fim o instinto de sobrevivência do soldado tomou conta de Nath e ela desferiu um chute giratório, atingindo o abdômen de Jade com força. O ar explodiu para fora de seus pulmões enquanto ela era projetada uma dezena de metros para trás. Nath esperava que o ataque fosse o bastante para desacordar a amiga, mas ela estava enganada. Para seu terror, Jade se levantava, com um arco corto em mãos e uma pequena flecha. A sua boca escarneceu num sorriso de deboche e amargura e seu rosto metamorfoseou numa caricatura amarga e ressentida.  O arco retesou em sua mão e a flecha disparou serena, voando na direção de Nathália.

Ela voou perfeita, descrevendo uma linha reta e mortal até morrer numa árvore, que até meio segundo atrás não estava lá. Jade berrou de ódio e preparou outra flecha, mas não teve tempo: em poucos segundos uma centena de vinhas de cipó se arrendaram em seus pés, e numa explosão de terra e poeira ela estava presa, envolvida pelo majestoso abraço de um gigantesco carvalho nascido no meio da área de treinos de arqueria. Ela olhou para trás e viu Lucas, um dos filhos de Demeter. Ele sorriu. E tudo ficou escuro.

Barbaros? são todos burros!

É apenas um bárbaro burro e analfabeto. Não se importe com ele.  – últimas palavras de um guerreiro Zenithar ao se referir a Conan, da Ciméria.

“Eu até gosto de jogar com bárbaro, mas acho muito limitador, sabe? São todos assim, burros e retardados. É legal no começo, mas depois você fica meio que preso ao conceito da classe. Não pode ajudar na estratégia nem dar boas ideias porque são todos analfabetos”.

Colhi esta frase num bate-papo no último encontro de rpg que eu fui em 2013. A frase ficou na minha cabeça por um tempo.  Fiquei divagando sobre ela e percebi como a maioria das pessoas tem ideias absurdamente erradas sobre bárbaros. Então resolvi escrever este pequeno artigo explicando o que é, ou o que foi, historicamente e fantasticamente, um bárbaro e porque ele é muitas coisas, menos um burro ou retardado.

Comecemos pelo conceito da palavra “bárbaro”. Segundo Webster (1972) “Bárbaro” é um termo utilizado para se referir a uma pessoa tida como não-civilizada.  A palavra é frequentemente utilizada para se referir a um membro de uma determinada nação ou grupo étnico, geralmente uma sociedade tribal, vista por integrantes de uma civilização urbana como inferiores, ou admirados como nobres selvagens.

A partir da definição de Webster temos algumas linhas a traçar. A primeira delas é que o termo bárbaro só existe se for ele estiver inserido numa situação de comparação de duas ou mais culturas diversas, sendo que uma delas é dita como “civilizada”. Gordon Childe (1978) nos oferece a ideia da sequência evolutiva “selvajaria – barbárie – civilização”, entendida como os estágios evolutivos obrigatórios das sociedades antigas desde a passagem de um sistema social/econômico/tecnológico de caçadores-coletores (“selvageria”) para agricultores e pastores (“barbárie”) até a concentração em cidades e divisão social (“civilização”).  Ou seja, para Childe (1972) o bárbaro é alguém que pertence a um grupo social que está num estágio evolutivo social diferente.  Foram os trabalhos de Childe que popularizaram os conceitos de revolução neolítica (ou revolução agrícola) e revolução urbana para marcar a passagem entre tais estágios evolutivos da humanidade.

O segundo ponto que podemos tomar é subjetivo ao primeiro, mas vale ser explicitado de forma mais clara: a ideia de inferioridade no desenvolvimento civilizatório só existe quando ela parte da dominação cultural de uma cultura sobre outrem. Não significa, realmente, que uma é superior a outra.

A terminologia  da palavra “bárbaro” nasce do grego. Berutti (2010) resgata o termo: A palavra “bárbaro” provém do grego antigo, βάρβαρος, e significa “não grego”. Era como os gregos designavam os estrangeiros, as pessoas que não eram gregas e aqueles povos cuja língua materna não era a língua grega. Principiou por ser uma alusão aos persas, cujo idioma cultural os gregos entendiam como “bar-bar-bar”.

Porém, foi no Império Romano que a expressão passou a ser usada com a conotação de “não-romano” ou “incivilizado”. O preconceito perante os povos que não compartilhavam os mesmos hábitos e costumes é natural dos habitantes dos grandes centros econômicos, sociais e culturais, e caracteriza-se pelo etnocentrismo. Atualmente, a expressão “bárbaro” significa não civilizado, brutal ou cruel. Era um termo pejorativo que não condizia com a realidade pois, apesar de não compartilharem de alguns aspectos da cultura romana e não falarem o latim, tais povos tinham cultura e costumes próprios.

Ou seja, desmontamos a argumentação do amigo jogador é que eles são ignorantes. Eles têm apenas uma cultura diferente da nossa.  Quando falo “nossa” aqui me refiro á cultura dominante presente na situação.

Então se o bárbaro é alguém que não comunga da minha cultura dominante, o que ele é? Alguém que tem cultura própria, costumes próprios, linguagem e alimentação próprias, diferentes da nossa.

“Mas os bárbaros são ignorantes. Analfabetos.” Será mesmo? O fato de não serem capazes de “traçar sons” (Michael Crichton: 1976) não os faz menos perigosos ou inferiores. Ao longo da história da humanidade diversos povos e culturas foram tachados de bárbaros e inferiores porque não bebiam vinho ou porque não falavam latim, mas você seria capaz de dizer que povos como os Alanos, Anglos, Suábios, Burgúndios, Cartagineses, Celtas, Francos, Frísios, Germanos, Godos, Ostrogodos, Visigodos, Hunos, Lombardos, Lusitanos, Saxões, Suevos, Vândalos e Vikings são inferiores ou ignorantes?

Não esqueça que o rpg é uma invenção estadunidense e como tal impregnado com sua cultura ocidental, judaico-cristã. Subjetivamente seus conceitos ideológicos do que é ser “bom”, do que é ser “mal” do que é “desejado” e do que é ser “indesejado” estão presentes. A própria ideia de justiça é puramente cristã, assim como clérigos com funerais ocidentais e símbolos divinos e cemitérios.

Cabe aqui resgatar o filósofo alemão Nietzsche, em alguns de seus textos clássicos como “Gaia Tribo”, “Crepúsculo dos Ídolos” e “Além do bem e do mal”. Para os povos primitivos (primitivo no sentido de primeiro e não de ultrapassado) temos uma inversão dos valores cristãos. Para o cristão, o bom é o fraco. O forte é mal. Veja, por exemplo, a ideologia por trás de Cristo: apesar de ter todo o poder do universo e além, ele aceita ser torturado e condenado para salvar a humanidade como um herói estóico e trágico. Mesmo hoje torcemos pelo mocinho dos filmes e novelas que durante toda a história sofre o pão que o diabo amassou nas mãos do vilão poderoso. Aliás, me arrisco a dizer que gostamos de torcer pelo mais fraco. Já para os povos bárbaros, não cristãos, o bom é aquele capaz de empregar a força. É aquele que tem valor para a sociedade. Você vale á medida que pode impor sua opinião. Fracos são escravizados ou mortos. Ser escravizado é ruim, portanto ser fraco é ruim. Ser fraco é o mal. Pense nisso por um segundo: os vikings desenvolveram toda uma técnica de navegação para sair da Escandinávia e assolar o mundo dos séculos IX e X, com armas e estratégias militares que colocaram o mundo civilizado de joelhos. Você ainda diria que são burros e analfabetos?

Então um bárbaro é só alguém culturalmente diferente. Mas ele ainda é inferior? Nunca foi. Pegue por exemplo um índio sem contato ou com pouco contato com a civilização urbana e o solte em São Paulo e peça para ele interagir com smartphones e coisas assim: com certeza ele não vai conseguir. Quer dizer que ele é burro e ignorante? Não. Quer dizer que ele foi educado numa cultura e num mundo onde outras habilidades são necessárias. Pegue um moleque paulista, acostumado a metrô, iphone e navegar no face e solte-o no meio da floresta amazônica. Vejamos quem é o ignorante agora.

Vou colocar a seguir um exemplo de uma cultura bárbara. Uma espécie de viking fantástico.

As primeiras gerações de Vikings, buscavam em sua maioria, riquezas e não terras. Isso especialmente no caso de reis e dos nobres que dependiam de uma renda polpuda para se sustentar no poder. Outra razão é que os Vikings costumavam ter mais de uma esposa e muitos filhos. Geralmente apenas o primogênito recebe a herança da família e os outros filhos têm de “se virar” por conta própria. Os filhos que não recebem herança compunham uma grande elite de guerreiros perigosos, obrigados a se virar sozinhos, a qualquer custo, quer por conquistas internas, quer por pirataria fora do país.

Os Vikings dispõem de avançados meios de transporte que facilitavam os ataques relâmpagos: desde a cavalaria em lobos gigantes, passando pelo seu principal meio de transporte: a nau caçadora (Drakkar). Os engenheiros modernos consideram este barco como uma das maiores conquistas tecnológicas do mundo conhecido.

Para os homens, o que vale é a liberdade e o culto pela força de modo que quem não soubesse se defender perdia direito à propriedade. As pendências sem solução eram e ainda hoje são resolvidas em lutas e o vencedor era considerado o representante da vontade dos deuses.

As mulheres têm seus direitos assegurados, governavam a casa e praticavam a medicina, embora não tivesse assento no Poder Judiciário. Foram as mulheres anãs que descobriram a relação entre o sexo e a gravidez, ensinando o segredo para conter a gravidez a outros povos. Por isso os não confiavam nem mesmo os segredos mais íntimos com suas esposas.

Talvez a geografia do Norte do Mundo tenha, juntamente com outros fatores, influenciado muito os antigos habitantes a ponto de possuírem uma religião, cultura, artes e valores morais próprios e inconfundíveis. O esforço individual para conseguir sobreviver da pesca e da caça (todos os países são muito frios e a agricultura não era praticada) foi o fator responsável pelo aguçamento do espírito bélico. Séculos depois, os Vikings mostrariam ao Mundo toda a sua sede de riqueza, na guerra.

Os Vikings normalmente são enterrados num barco ou sob pedras dispostas na forma de um barco. Junto eram enterrados alimentos, armas, animais abatidos, ornamentos e às vezes até mesmo uma escrava sacrificada. Havia casos em que a criada da rainha era enterrada com ela.

A morte em combate é ansiada pelos homens. Morrer velho e doente numa cama estava entre os piores temores que um Anão pode ter. Os velhos eram respeitados por sua sabedoria, mas muitos deles acabavam por virar andarilhos ou ermitões apenas para não virarem “fardos” para seu povo ou clã.

Um jovem que tinha se ferido gravemente em batalha ainda poderia ser um guerreiro. Muitas são as lendas contadas pelos Skalds sobre guerreiros de um braço só, ou cegos de um olho. Mas amputações mais severas, tais como a perda de uma perna ou de ambas, ou cegueira total, muitas vezes acarretavam numa vida triste e infrutífera, preso à casa e à vida das mulheres. Incompatível com a vida guerreira, muitos desses jovens acabam por se suicidar, de pura tristeza e incapacidade.

Poucos são os Vikings alfabetizados. Isso é mais uma competência de alguns clérigos ou um ou outro Governante, mas a grande maioria da população é analfabeta. O que não chega a ser, no cenário onde vivem, uma desvantagem. O alfabeto viking conta com 11 caracteres. Escritos mais antigos podem ser encontrados até 17 caracteres diferentes, mas com o passar do tempo, os Vikings foram achando que tinhas “letras demais” e foram cortando. Toda a sua tradição e costumes é contada oralmente.

Vikings são guerreiros por excelência e a maioria dos personagens terá uma “segunda profissão” além de guerreiro. Esta segunda profissão é normalmente alguma outra relativa à sobrevivência, tais como: caça, pesca, sobrevivência (ártico), montanhismo, escalada, navegação, marinhagem, ferreiro, artesanato, carpintaria, etc. Era muito raro, mas mulheres também iam às batalhas. Mulheres Vikings assim conhecidas como Senhoras da Guerra são formidáveis combatentes, muitas vezes usadas como espiãs.

Então, o que dizer dos bárbaros agora?