Você não precisa de um Master Class de RPG… e eu posso porvar

Já foi motivo de texto neste egresso blog que existem pessoas que estão oferecendo o serviço de mestrar de forma profissional. E aí a pessoa oferece o seu currículo, as suas credenciais, a sua experiência e o seu preço. Paga quem quer. Ou quem pode. 

As coisas no Brasil escalonam de um jeito muito rápido. Literalmente é como naquela música do Luiz Gonzaga: enquanto você está peneirando milho eu já estou voltando com o fubá. Mas eu estou me adiantando, e se você não tem noção do que anda acontecendo na comunidade do RPG brasileiro nos últimos meses, pode ser que eu esteja colocando a perder os meus argumentos.

Ao contrário do que diz a nossa memória saudosista, conseguir um grupo de jogo no Brasil nunca foi uma tarefa fácil. Mesmo quando eu morava em São Paulo, a meca do RPG no Brasil, era uma missão desafiadora. E em tempos de pandemia ficou ainda mais complicado. Mesmo hoje, no universo infindável do RPG nacional e importado, jogar RPG pode ser desafiador.

Mas nem é sobre isso que eu gostaria de falar hoje. O assunto que eu quero me referir é o escalonamento exagerado do princípio baseado no capitalismo de “eu sou pago para mestrar”. Se eu posso ser pago para mestrar por que não ser pago para ensionar os segredos do RPG? Parece uma boa ideia para ganhar uns trocados.

São as famosas masterclass de RPG. É isso mesmo. Se você já navega na internet a tempo bastante já deve ter esbarrado em algum curso cujo subtítulo é “masterclass”. Normalmente pega um alguém com alguma experiência “comprovada” em um determinado ramo, que promete mostrar todos os segredos da profissão. Começa com algumas palestras gratuitas, alguns vídeos que você pode assistir com hora marcada no segredo do grupo exclusivo do telegram e termina concurso normalmente caro, envolvendo conhecimentos que você poderia obter de forma prática, ou catando por aí pelos recantos da internet. 

Nunca vou esquecer de um desses cursos que bateu na minha porta, quando a minha esposa resolveu aprender a ser sommelier de vinhos. Começamos a seguir uma dupla de conhecedores de vinhos em uma série de palestras e vídeos gratuitos que eles explicavam com uma ficha catalográfica como deveríamos entender e apreciar um bom vinho. Depois de dois finais de semana degustando vinhos como Shiraz e Pinot noir, com harmonização de queijos e frios, veio o golpe, ou melhor dizendo o curso: uma infindável linha de vantagens acompanhada de um preço módico. R$ 2500 para aprender a degustar vinhos. Dois Paus e Quinhentos Golpinhos! Até hoje esse valor me espanta. Eu e minha esposa concordamos que seria muito mais interessante gastar esse dinheiro todo com uma boa adega climatizada e passar no meu distribuidor de vinhos favoritos e escolher um monte de coisa para se divertir. E mesmo fazendo tudo isso eu não gastaria uma fração do que o tal curso dos especialistas teria para me oferecer. Semana passada convidamos um amigo português para tomar vinho e numa tarde de boas conversas apredemos muito mais do que em qualquer palestra de masterclass.

O que eu quero dizer com esse texto todo é que você não precisa de um masterclass de RPG para se tornar um grande narrador. Você só precisa jogar com seus amigos. Não é porque uma pessoa escreveu um livro ou porque ela está narrando jogos a uma dezena de anos que ela é melhor do que você. Claro que você pode procurar pessoas que são mais experientes para pegar umas dicas aqui e ali, mas não existe um jeito certo de jogar RPG. Desde que você e seus amigos estejam se divertindo, desde que ninguém se machuque no processo, eu só vejo vantagens. Ao invés de gastar dinheiro com Masterclass de RPG você poderia comprar livros, miniaturas, acessórios, ou ajudar o seu streamer favorito a continuar aquela campanha que você assiste religiosamente toda quinta-feira à noite. 

Não caia no conto do vigário e nem no Canto da sereia de pessoas que saem por aí dizendo que você precisa de um curso especial para ter aventuras fantásticas no universo do RPG. Tudo isso é tão falso quanto uma nota de R $3. 

Em outras palavras meu amigo: vai jogar.