Bondade, maldade e neutralidade.

Vivemos um interessante momento da história da humanidade. Temos uma rede de informações que conecta o mundo inteiro, facilitando de forma assustadora e inédita a circulação de informações onde antes não existia nada. Em virtualmente qualquer lugar do mundo você pode sacar seu smartphone e postar algum comentário no facebook. Vivemos uma confluência de culturas como nunca visto antes.

O grande problema disso que é nos tornamos escravos de alguns conceitos tidos como universais. Não temos mais nenhum conceito absoluto. Tudo pode ser relativizado. Eu disse pode? Ele deve ser relativizado, sob pena de não estarmos dentro do que a sociedade chama de “politicamente correto”. Tudo é motivo de discussão, cuja profundidade varia desde o pires da filosofia de botequim até os mais profundos cântaros da hermenêutica da ética social.

Relativizamos qualquer coisa: amor, ódio, beleza, estética… nada escapa ao nosso mecanismo das cores de cinza. Nem mesmo a história. Quantas vezes eu não fui testemunha de relativizações sobre os motivos ou os fatos históricos? O que esquecemos é que esta relativização é nova. Antigamente o mundo era bem mais “preto no branco”.

Não podemos esquecer que a nossa relativização também afeta os jogos que tanto amamos. Temos a inclinação de observar o que se passa nos jogos e cenários com a visão pós-moderna. Parafraseando o popular Tim Maia, somos especialistas em fazer o elfo negro bonzinho, o bárbaro calminho, o vampiro que não bebe sangue humano, a prostituta apaixonada, o traficante drogado, o cafetão ciumento…

O que deixamos passar muitas vezes é que bondade, maldade e neutralidade são elementos absolutos no mundo dos jogos. Em cenários medievais clássicos de D&D bem e mal não são sentidos humanos e sim divinos. Perceba que sempre existe um deus “do bem” e um “deus do mal”, num sistema de mitos de antíteses.

Assim a fantasia medieval se permite esses extremos. Permite-se a liberdade poética de uma raça maligna, feita para ser odiada pelos jogadores. Permite-se uma divindade bondosa, cujo abnegado agente salvará a vida dos jogadores em algum momento. E permite igualmente que nestes extremos existam as exceções e os meios-termos. Mas são apenas isso: exceções.

2 Comentários (+adicionar seu?)

  1. arquimago
    jun 26, 2012 @ 00:14:38

    Justamente por tentarmos ser nosso tempo em outro tempo perdemos reflexões diretas

  2. A.C. Costa Ferraz
    jul 14, 2012 @ 01:25:15

    Essas cores fortes, causam impressões duradouras e profundas.

    Relativizar as vezes cria absurdos. Citou bem o Tim Maia. Cria seres que servem bem para uma comédia.

Deixe um comentário