Iniciativa Mutantes e Malfeitores Brasil: super seres entre nós.

Um pé na realidade: e se existissem mesmo pessoas com super poderes?

 

 

Este é o segundo tema dentro da Iniciativa, seguindo o nosso cronograma ultra-flexível de publicações e temas. A pergunta que eu quero tentar responder aqui é simples e ao mesmo tempo bastante complexa: e se existissem mesmo pessoas com super poderes no mundo? Super heróis, você quer dizer – pode perguntar alguém. Não. Super seres. Tem diferença. Muita. O nosso mundo simplesmente não é compatível com a idéia de super heróis.

A primeira coisa a se determinar para entender as implicações dessa pergunta seria que tipo de poder e qual o nível de poder que estamos falando. Uma pessoa que consegue enxergar no escuro não é mais perigosa que uma pessoa com óculos de visão noturna (night vision googles). Um homem que consegue sentir o cheiro das coisas como se fosse um cachorro treinado não é melhor que um bom policial K9. Ao que me consta, enquanto os poderes sejam apenas pequenas alterações no ramo de normalidade da humanidade estamos cheios de “super seres” e o mundo vai muito bem, obrigado: Ayrton Sena (Super piloto), Nadia Comaneci (Super Ginasta), Elvis Presley (Super Cantor)…

O problema é quando a escala de poderes passa de algo “pouco acima do normal” para algo “muito acima do normal”. E o que quer dizer muito acima do normal? Muito quer dizer isso: muito. Falo de gente capaz de levantar caminhões, voar, correr a fantásticas velocidades, disparar rajadas dos olhos, mudar de aparência com um piscar de olhos… essas coisas que os personagens de quadrinhos de super heróis fazem o tempo todo.

Primeiro, não haveriam palhaços fantasiados de trajes colantes zanzando pelas cidades combatendo o crime ou salvando gatinhos de árvores. O nosso mundo é muito cético para esse tipo de coisa. O mais provável é que as pessoas que fossem portadoras dessas habilidades especiais as mantivessem em segredo tentando manter uma vida secreta de aparente normalidade, ou usariam suas habilidades para se tornarem muito ricos/famosos.

Jamais vou esquecer um personagem de supers que eu escrevi uma vez. Ele era um desajustado social no colégio que de repente se viu com quase todos os poderes do Super Homem: Super forte, muito veloz, super sentidos, resistência assombrosa e visão de raios x. Ao invés de seguir os rumos do último filho de Krypton ele não apenas jogou futebol, mas foi o melhor jogador do colégio, carregando o seu time nas costas por três temporadas até ser descoberto por uma universidade e ganhar centenas de milhares de dólares como jogador profissional. Eu recebi muitas críticas na época de outros jogadores com quem esse personagem jogava: o cara não tinha codinome e nem uniforme, nada que o identificava como um super herói. Mas as pessoas não sacaram que ele não era um super herói. Ele era um super humano. Apenas humano.

Cedo ou tarde tanto o governo estabelecidos como outras formas de poder usariam os supers para alguma coisa. Imaginem um grupo terrorista com um super capaz de disparar rajadas de energia. Nenhum avião do mundo estaria seguro. Contrabandistas ou traficantes com super velocistas trariam toneladas de material ilegal num piscar de olhos. Um grupo de investigadores da polícia com uma pessoa com Percepção Extra-Sensorial resolveria crimes num piscar de olhos. Alguns supers seriam idolatrados como se fossem deuses. Imagine uma criança que pode curar o câncer com um toque. Você não a veneraria como se fosse uma pequena deusa? Uma supermodelo que fosse realmente super linda?

O que garantiria que apenas super seres não estivessem nas seleções olímpicas, roubando a glória dos verdadeiros esportistas? Na boa, fiz natação por muitos anos e ficaria, no mínimo, puto da vida se os meus anos de treino fossem trocados por um “Zé Mutana” qualquer com guelras e nadadeiras. O preconceito, assim como a idolatria, seria inevitável.

A idéia mais comum é que se existissem de verdade, super seres seriam caçados pelo governo. Por que? Porque os governos do mundo trabalham pelo homem médio e não pelo homem super. A opinião pública, formada por uma massa anônima unida pelos meios de comunicação e consumo não está nem aí para os limites exponenciais da sociedade: ela quer apenas o mediano. E sempre que algo se sobressai demais acaba gerando aborrecimentos e acaba sendo eliminado. Como dizia um participante de reality show: prego que se destaca acaba sendo martelado.

Num universo como o nosso o super poder é tratado como mais uma ferramenta que deveria ser controlada. Ou eliminada, conforme a visão. É o que vemos no filme Jumper. O argumento dos caçadores não deixa de ser de uma simplicidade perigosa: apenas Deus tem o direito de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Você não é Deus. Então, morra. Imagine quantos assassinos especiais a CIA ou a KGB não usaram/usariam se tivessem chance. Que segurança a Casa Branca teria contra pessoas capazes de se teletransportarem? Nenhuma, pelo que eu vi.

Algumas séries de TV como o Heroes e o Mutantes – caminhos do coração tentam mostrar como seria se houvessem mesmo super poderes. Séries do passado, bem mais coloridas como o Misfits of Science tentaram a mesma coisa e hoje servem como material de referência.

A verdade é que a maioria de nós não sabe como vai ser porque não vai acontecer. Só podemos especular – e esta altura do campeonato o meu palpite vale tanto quanto o seu.