Tratado sobre a Magia Arcana de GoG

 

(Ou como costuma funcionar as magias nos meus mundos de fantasia medieval?)

Para responder a essa pergunta vamos traçar um paralelo entre magia e sua origem: os dragões. É certo que foram os dragões que desenvolveram a magia arcana através de seus próprios experimentos e experiências com os deuses. Afinal de contas, existe tanta magia no sangue de um dragão quanto numa espada mágica. Arrisco-me a dizer que até mais magia no sangue de um dragão.

Dessa forma os dragões criaram as duas formas de magia arcana: a magia hermética e a magia natural (também chamada de selvagem ou do sangue) dividida em duas estirpes: a dos magos e a dos feiticeiros. Só mais tarde surgiram as magias musicais. A interação dos dragões com as culturas emergentes foi o que permitiu que a magia draconiana fosse passada para elfos e posteriormente para outras raças, como os humanos. Uma vez que a magia draconiana passou a ser élfica e depois passou a ser humana algumas mudanças começaram a ocorrer na própria trama da magia.

Para entender isso, imagine que todo o mundo que você conhece e o que você não conhece está ligado por fios invisíveis. Esses fios tencionados e afrouxados controlam o devir das coisas, e suas mudanças. Algumas dessas mudanças são naturais – outras nem tanto. A magia nada mais é do que entender como puxar e afrouxar as “cordas certas” para obter o efeito que se deseja.

Os primeiros dragões podiam não apenas ver e sentir esses fios de energia, mas também podiam tocá-los. Os dragões conseguem, através do seu pensamento e canto, flexionar alguns desses fios especiais e assim produzem magias. Assim são as magias dracônicas: poderosas e simples; quase divinas. Suas incursões geravam uma magia que se assemelhava ao som de uma chuva de verão sobre a terra nua ou o sibilar de um riacho sobre o leito raso e pedregoso. O som de seus pensamentos era harmonioso e natural. E assim também era a sua magia.

Os dragões então passaram sua magia para os elfos. Por que? Como saber? É uma informação que se perdeu com os milênios de história não escrita. Quando a magia passou para os elfos eles tiveram que se esforçar para ver os fios e entender sua complexidade. Entretanto seus movimentos anti-naturais resultaram numa melodia que embora bela, era até então desconhecida. Sua magia não natural, mas sim harmônica, como as notas de um violão. Então, imitando o canto de seus professores eles definiram uma rígida e ao mesmo tempo fluída, forma de tratar magia: como se fosse música. Esquematizaram o que aprenderam de seus mestres dracônicos e adaptaram seus conhecimentos na forma que puderam. Assim, para os elfos, a magia é natural como a música. Foram os elfos os primeiros a terem crias com os dragões: e foi assim que o sangue élfico ganhou parte da magia que de temos em tempos nasce em suas comunidades.

Então vieram os humanos: de vida curta e fulgás, barulhenta. Aprenderam magia dos elfos, mas sem suas sutilezas. A sua limitada visão e a sua presa em aprender não permitiam que eles agissem pelo pensamento elevado como os dragões e nem que se movessem com a sutileza musical dos elfos. Quando os elfos ensinaram a magia arcana para os homens eles entregaram à humanidade uma grande ferramenta. Uma ferramenta que a humanidade não estava pronta para possuir e nem madura o bastante para usar. A magia nas mãos dos humanos foi transformada numa coisa anti-natural, utilitarista, desarmoniosa. Como notas desconexas e dissonantes de um piano desafinado, a magia humana foi a primeira a desenvolver técnicas feitas de maximizar os efeitos destrutivos da magia. Nada de arte, nada de harmonia natural, a magia humana nada mais era do que a potencialização de um desejo humano de ter sempre mais, a qualquer custo. Quando o primeiro mago humano inventou a bola de fogo foi que a profecia de que os humanos de os homens destruiriam os dragões surgiu.
A trama da magia deixou de ser o que era antes. Fios eram puxados, retorcidos e folgados sem critério, sem escrúpulos em nome do aprendizado e do desenvolvimento. O custo disso foi elevado e de certa forma ainda pagamos por ele – especialmente quando alguma aberração mágica invade o nosso plano de existência. A trama passou a ser rígida e a magia foi se cristalizando em formas pré-concebidas. Fato é que nenhum humano jamais teve capacidade para “ver” a trama ou os fios que estava puxando por seus gestos e suas vocalizações – mas, através do estudo incessante de formas prontas, o mais medíocre dos homens poderia ser ensinado a usar magia com pouco mais de um ano de estudos. Muito diferente de um elfo que leva pelo menos dez, ou vinte anos.

Magias diferentes, abordagens diferentes. Quando houve a guerra draconiana e anunciou-se a expulsão dos dragões a magia cristalizou-se ainda mais. A cada dia que passava menos era a influência da magia selvagem: A cada ano menos feiticeiros surgiam e a magia estava se prendendo a tradições escolásticas seculares.

A pesquisa de novas formas de magia estagnou-se. Nada mais era criado. Apenas existiam as variações, intermináveis variações sobre magias que já existiam. Inovações surgiram: formas cada vez mais letais de se forçar a realidade a assumir uma postura.

Agora, vamos supor que nem todos os dragões foram expulsos. Que alguns deles aqui ficaram e estão arquitetando um retorno triunfal de sua antiga raça, para destruir a todos. Uma nova revoada de chamas sobre o mundo conhecido. Seria possível? Os sinais são tão claros quanto confusos. A trama esta mais fluída. A magia flui como não fluía antes. Os feiticeiros, que na língua dos elfos são chamados de fingoatans (os que têm sangue de dragões), voltam a surgir – e em grande número. O ar está mais denso, como se a natureza esperasse de fôlego preso o retorno de seus mais antigos aliados e algozes.

De uns anos para cá eu tenho visto o surgimento de algumas áreas de magia selvagem. Locais onde a magia não funciona como deveria funcionar. Magias que conhecemos bem não surtem o efeito que queremos. Um mero feitiço de luz pode vaporizar um mago incauto nessas áreas. Reflexos da forma irresponsável de como os homens vêm conduzindo a magia ou simplesmente anúncios do retorno dos dragões?

Imagine a energia maciça, a quantidade de linhas que a rama formaria. Toda a magia seria redefinida com um retorno em larga escala dos demônios de asas que um dia governaram o mundo. Imaginem que podemos não ser rápidos o bastante para aprender essa nova forma de magia. Não tão rápidos quanto dragões, sedentos de vingança, podem estar para nos destruir.