Camponês indefeso é a vovozinha, ok?

A situação é padrão de uma aventura de RPG: os personagens são contratados por uma vila para defender os moradores de um grupo de bandidos que os ataca, sempre na época de colheita. Os moradores dizem que não podem se defender e pagam os personagens para fazer isso. Este roteiro, desenhado pela primeira vez por Akira Kurosawa em seu famoso Os Sete Samurais foi copiado para o mundo moderno por Sete Homens e Um Destino e levado à cabo dezenas de bilhares de vezes: com um pouco de cuidado é possível ver resquícios deste roteiro em filmes como Rápida e Mortal, com Sharon Stone ou em Los três Amigos, com Steve Martin.

Mas será que os homens e mulheres que viviam na Era das Trevas eram assim tão desprotegidos? Afinal, aconteceu mesmo MUITA guerra durante a Idade Média. Não fosse por isso não teríamos a imagem emblemática do cavaleiro de armadura, montado em seu corcel empunhando sua lança de justa. A verdade é uma só: camponeses não eram tão desprotegidos quanto os livros de história fazem parecer.

As armas medievais eram usadas com muito mais freqüência na idade média do que gostamos de supor. A razão para isso é bem simples: a vida naqueles tempos não era nada fácil e estava bem longe do ideal idílico de paz com recortes de turbulência como é o caso da maior parte dos cenários medievais. Segundo o professor Weyller dos Santos “para cada dez anos de história medieval temos um ano de paz e dez anos de guerras e conflitos”. Ao que parece, a atividade mais popular daquele período era tomar as terras e as riquezas daqueles que estavam à sua volta. Provavelmente era a maneira mais fácil e rápida de adquirir riquezas: tomá-las de quem já as tem. Provavelmente um reflexo do pensamento romano expansionista mesclado com o choque que foram as invasões bárbaras no começo da Idade Média.

Muitos castelos, evoluções naturais dos antigos fortins romanos, foram erguidos para proteger os senhores feudais e seus tronos. As pessoas encaravam a guerra como uma coisa normal, natural e estavam preparadas para ela a todo tempo. A figura do camponês indefeso frente a soldados invasores é tão falsa quanto a da vila limpinha e organizada que alguns cenários de fantasia parecem passar. As pessoas nasciam e morriam em meio as guerras – sejam pequenas escaramuças entre barões vizinhos ou guerras massivas que movimentam todo o continente. Os homens aprendiam a combater com as armas que tinham a mão: o machado que derrubava arvores fendia com igual facilidade o elmo e o crânio dos inimigos, ao passo que o martelo usado para bater ferro e pregar pregos também era largamente usado como arma de impacto. Ainda nesta categoria estavam as lanças improvisadas para evitar o ataque dos cavaleiros (lanças de 4,5m de comprimento, feitas apenas com troncos longos de árvores com uma ponta afiada).

Soldados, Cavaleiros e Arqueiros eram tão diferentes entre si quanto seus papéis ou suas armas. As armas evoluíam a vida em sociedade, mudando ao longo do tempo. Espadas desenvolvidas no começo da idade Média – descendentes do gládio romano – tiveram de mudar de forma e tamanho muitas vezes, à medida que as armaduras também mudavam. Não fazia sentido continuar usando a mesma espada que não era capaz de romper com a mais simples das cotas de malha. Os cruzados tiveram um papel importante neste período por trazer a um só espaço geográfico (Jerusalém) tudo o que melhor existia entre o oriente e o ocidente. A besta surge como uma arma poderosa, capaz de perfurar a armadura do mais poderoso dos cavaleiros, mas não antes da espada longa ter feito centenas de milhares de vítimas quando usada sobre o dorso de um cavalo.

As armas eram mesmo bem diferentes. As armas de um cavaleiro em nada, ou quase lembravam a de um soldado a pé. Afinal, era muito mais barato ter soldados a pé que podiam usar lanças e escudos de madeira; cavaleiros, por outro lado, custavam muito caro: cavalos treinados, armas e armaduras que exigiam cuidados constantes, além de um pequeno exército de pajens e aprendizes de cavaleiros que se juntavam a volta do cavaleiro.

Tropas a pé eram um importante componente de todos os exércitos na Idade Média. Elas lutavam em escaramuças corpo-a-corpo e arremessando projéteis (arcos de todos os tipos e, posteriormente, armas de fogo). Soldados desmontados eram importantes tanto para cercos à castelos quanto à cidades fortificadas. Os cavaleiros se revestiam com Armadura de placas e atacavam com lanças, dispersando, perfurando, e atropelando quaisquer tropas desmontadas em seu caminho ao se aproximarem para decidir a batalha. A era dos cavaleiros terminou quando a infantaria recuperou papel proeminente nos campos de batalha com novas armas (armas de fogo) e retomada de antigas estratégias (formações de piqueiros em massa). Essa visão foi promovida pela arte e pelas limitadas contas da época que destacavam a nobreza montada enquanto ignorava os homens do povo e camponeses que lutavam a pé. A visão de que os cavaleiros dominavam os campo de batalha e que os combates consistiam principalmente em cargas de cavalaria é falsa.

A guerra na Idade Média era, na verdade, dominada por algum tipo de cercos e de batalhas de guerrilha. Batalhas em campo aberto entre exércitos não eram freqüentes. Os exércitos jogavam uma espécie de partida de xadrez, deslocando-se para tomar castelos ou cidades importantes, enquanto evitavam combate direto, quando uma grande e cara força poderia ser perdida. Isso quando a guerra não assolava o campo, beirando florestas e vilas.

Entre as armas mais usadas naqueles tempos, podemos citar: as armas de haste, os machados, maças, martelos, alabardas, bestas, arcos de todos os tipos, e muitos modelos de espada.

É importante relembrar que numa sociedade feudal cabia aos lordes de terra fornecer soldados ao reino, roupas e armas para o exercito do rei, em pagamento pelas terras que possuíam. Ninguém estava livre da obrigação de lutar, e sendo assim todos os homens sabiam usar pelo menos um tipo de arma. Quando havia um chamado às armas todos os homens eram requisitados por pelo menos 40 dias e em alguns casos especiais, por 90 dias ou mais.

Sendo assim, num cenário tão caótico, fica difícil crer que os camponeses eram mesmo indefesos. Num cenário de fantasia medieval que além de tudo isso também poderia contar com as devastadoras opções que seu selo carrega (magia, monstros, feras selvagens, armas mágicas, raças fantásticas…) fica ainda mias inverossímil a idéia de um “fazendeiro coitadinho”. E a solução?

Bom, se você joga D&D 3.X eu aconselho que para cada 10 anos de vida do seu camponês ele tenha um nível de classe sendo que pelo menos um desses níveis seja o de Combatente. Dessa forma, o venerável chefe da aldeia de Lua Escarlate, Guy da casa de Broc, seria um personagem de sexto nível (Camponês 4, Combatente 2). Seu filho mais velho, Edgard de Guy seria um simples personagem de segundo nível (Combatente 2).

Guy de Broc

Humano, Cam4/Com2: CR 4; Tamanho M (1,70m); DV 4d4+8 + 2d8+4; pv 30; Inic -1 (-1 Des); Desl: 9m.; CA 10 (-1 Dex + Armadura de Couro); Ataque +6 (machado, 1d6+2, 19-20 x2), ou +3 (funda, 1d4, 19-20 x2)

Porteção: Fort +8, Ref +0, Vont +3;

AL Leal e Neutro;

For 14 (+2), Des 9 (-1), Con 14 (+2), Int 17 (+3), Sab 14 (+2), Car 12 (+1).

Perícias e Talentos: Escalar +7, Ofícios (Fazer armaduras) +8, Ofícios (Fazer arcos e flechas) +10, Ofícios (Olaria) +7, Ofícios (Fazer armas) +11, Esconder-se +3, Conhecimento (Natureza) +3, Ouvir +4, Atuação (Flauta) +3, Atuação (Dança) +2, Cavalgar +6, Observar +11, Natação +9; Prontidão, Grande Fortitude, Sacar Rápido, Foco em Perícia (Ofícios (Fazer Armas)).

Equipamento: Machado, funda, gibão de peles, roupas de camponês, 1d10 peças de prata, colar abençoado (nenhum benefício).

OBS: se você não acredita em mim, procure por ouros camponeses indefesos que existem por aí… uns tais de “sem terra”…