D&D 4.0: minhas opiniões sinceras depois de uma segunda olhada.

Parte 2: ampliada, revisada e única.

Antes de iniciar esta resenha renovada quero deixar algumas coisas bem claras. Primeiro, eu não gostei do novo D&D. O D&D 4E não é o que eu entendo como um bom RPG para mim. Essa foi a impressão que eu tive jogando, montando fichas, mestrando e lendo os manuais de jogo. Mas para não dizer que estava sendo turrão e tudo mais, dei mais uma chance ao jogo. Esta resenha é fruto desta segunda olhada de “braços abertos e pernas fechadas”.

A segunda coisa que eu quero deixar claro é que eu sei que RPG é um jogo de interpretar papéis e sei também que nenhum manual é “mais interpretativo que outro”. Apesar de ter visto nascer e morrer a corrente Storyteller, o AD&D no Brasil, o Spellfire e tudo mais e algumas outras coisas eu não me considero um expert em RPG. Sou especialista em outra área – que por acaso é o meu ganha-pão.

A terceira coisa que eu quero deixar bem clara, muito mais que as duas primeiras, é que aqui é o Lote do Betão. Aqui é um local que eu escrevo por prazer e sobre aquilo que eu gosto. Ok. Todos prontos? Ah, sim… mais uma coisa: eu tenho um jeitão de escrever que parece que eu me coloco como dono da verdade. Não é essa a postura que eu quero passar, mas se soar assim, basta imaginar que estamos numa lanchonete conversando. Na verdade, se você responder a este post, tenha isso em mente. Vamos lá.

Uma das coisas que mais me incomodou no novo D&D é a maneira como o texto está apresentando as Skill Challenges. Por que disso? Para quem não tem costume de jogar RPG de mesa – ou seja para o público alvo do novo D&D – as Skill Challenges são apresentadas como uma desculpa para que você não tenha que interpretar seus papéis. O exemplo esta lá, no Dungeon Masters Guide, página76:

“O duque está sentado na cabeceira da sua mesa de banquetes. Gesticulando com uma taça de vinho ele aponta para vocês: Fui informado que vocês trouxeram notícias das terras fronteiriças”. O que vocês fazem?

Você pode usar uma das 5 perícias descritas: Blefar, Diplomacia, Insight, História ou Intimidação. As três primeiras representam testes moderados (seis sucessos antes de três falhas), enquanto que o teste de história é o mais fácil deles (quatro sucessos antes de duas falhas). Não use Intimidação: qualquer tentativa só vai piorar as coisas para você.

Eu sei, você que lê isso provavelmente também sabe, que a situação colocada ali pode ser resolvida com uma impostação de voz, algumas palavras trocadas com o mestre e uma rolada e meia de dados. Mas a pessoa que costuma jogar MMORPG e está acostumado a falar com NPCs com respostas pré-fabricadas não sabe disso. As chances que ele tem de pensar que as SC são a maneira canônica de resolver as coisas “apenas” com os dados é muito grande. MUITO GRANDE MESMO. Ora, se os jogadores veteranos “brigam” por assuntos banais como “oficial” e “não oficial”, que dizer de jogadores que nunca estiveram numa mesa de jogo antes ou de mestres de jogo que nunca estiveram na frente de um escudo antes? Eu sei que nenhum livro de RPG ajuda ou atrapalha a interpretação, mas neste caso, a nova mecânica tem muito mais chances de criar a impressão errada do que a de fazer a impressão certa.

Sim, eu sei que a nova mecânica pode muito bem ser trocada por dois minutos de bom e velho roleplay! Essa é a essência do jogo. Mas assim como eu não posso presentear os jogadores por serem astros enquanto outros são tímidos eu não deveria premiar também os sortudos frente aos azarados. Isso me leva a outro ponto que eu considero fraco no novo D&D: ao que parece, eles fazem de tudo para tirar o roleplay das mãos dos jogadores para alguma mecânica que envolva dados. É uma coisa tão arraigada, tão 4E, que eu não vejo, mesmo, como se livrar dessa política. Esse é o espírito 4E. Ou pelo menos parece ser. Se estou enganado é algo que apenas o tempo vai dizer.

A meu ver existem três tipos de pessoas que podem vir a gostar do novo D&D:

1 – Gente que vai ficar com o D&D, seja ele como for, bom ou ruim, apenas por que é D&D e porque D&D é oficial.

2 – Gente que nunca jogou RPG e que comece com ele. Aqui coloco o pacote dos jogadores de MMORPG que poderão (ou não) descobrir uma nova modalidade de jogo que não envolva uma placa aceleradora de vídeo e uma conexão de milhões de megas por segundo.

3 – Quem não gostou do D&D 3.X e nem de seus OGLs e procura alguma coisa mais palpável e colecionável: miniaturas, mapas, dioramas…

Existem, também a meu ver, muitos motivos para que eu não goste do 4.0. Uma delas é que não é o jogo que eu quero jogar. Os poderes, as descrições (ou a falta delas), as impressões que eu tive com o jogo não me fazer querer comprar o livro. Outra é que eu não preciso de novos sistemas. O OLG 3.X e suas variantes, especialmente as Old School Revised são muito mais a minha praia. Até aí nada de errado. Por que eu vou ter que pagar e consumir alguma coisa que eu não gosto quando eu já tenho algo que eu gosto? Apenas para fazer o mercado girar? Desculpe, mas o meu dinheiro é muito suado para ser gasto desta maneira. Vai ver é por isso que eu deixei de comprar todos os quadrinhos que eu comprava a quatro anos atrás: porque as mudanças não me agradaram. Vai ver é por isso que eu tenho um XBOX 360 Elite: porque as mudanças me agradaram. Vai ver é por isso que eu prefiro deixar de ir no show do Iron Maiden aqui em Brasília para poder estar com os meus amigos na Moonshadows, altas horas da noite, esquentando pizza fria num George Foremam Grill e espantando os gatos no processo.

No mais, atendendo à pedidos (na verdade um pedido só) eu não vou mais comentar sobre 4E por aqui. Nem para o bem e nem para o mal. Não é o meu jogo; eu não jogo. Por que falar nele? Você não me vê falando de GURPS aqui e nem de Castelo Falkenstein.

Um último conselho: se você gosta do D&D 4E siga nestes sites abaixo.

newtonrocha.wordpress.com

d3system.com.br

rolando20.com.br

vintefaces.wordpress.com

Se você não gosta e está procurando uma opção que não envolva gastar dinheiro com algo que não gosta, vá ao Pathfinder ou pegue o SRD do d20 e mude o que quiser. É permitido mudar.