Códigos de Honra

Códigos de honra ou códigos de conduta representam uma maneira moral que se espera quando você ou alguma pessoa pertencem a um determinado grupo ou instituição social. Representa o papel social que a sociedade espera deste grupo em particular, a maneira como este grupo se apresenta perante a sociedade.

Muitas vezes é visto como uma limitação “boba”. Em outros jogos é tido como uma desvantagem e chega a gerar pontos e bônus para àqueles que se utilizam delas. Muitos mais do que isso, são importantes ferramentas que ajudam na interpretação e dão mais cor ao seu personagem. Portanto, escolhi alguns deles, que julgo mais adequados para o uso em mesas de RPG para que você tenha idéias de como o seu personagem deveria estar agindo.

Aqui estão alguns códigos de honra para que você tenha uma idéia melhor de como eles funcionam. São exemplos de códigos históricos e ficcionais.

 

Bushido

Bushido é o código de honra dos antigos samurai no Japão feudal. Muitos livros foram escritos a seu respeito, podendo citar os famosos Hagakure e o Livro dos Cinco Anéis (Go Rin No Sho). Estes livros ditam as normas de como um suamrai deve viver e de como ele deve morrer para conservar e ampliar sua honra. De acordo com uma das versões do código um samurai deve possuir as sete virtudes que seguem:

Gi (honestidade e justiça): Um samurai lida honesta e abertamente e tende para os ideais de justiça. Decisões morais não são acompanhadas de nuances de cinzas, existindo apenas o certo e o errado.

Yu (coragem heróica): Um samurai nunca teme sua morte, vivendo uma vida de forma completa e maravilhosa. Respeito e cuidado, disciplinas da alma racional, assumem o lugar do meto, que pertence à alma animal.

Jin (compaixão): Um samurai aproveita todas as oportunidades que tem para ajudar os outros, e quando estas oportunidades não surgem ele as cria. Um indivíduo poderoso como um samurai tem a responsabilidade de garantir que este poder seja usado em benefício de outros.

Rei (cortesia educada): Um samurai não tem motivos para ser cruel, e nem para demonstrar sua força. A cortesia distingue o samurai do cachorro e revela sua força verdadeira.

Meyo (honra): A consciência do samurai é o juiz de sua honra. As decisões que ele toma e a maneira que ele suporta suas conseqüências são um reflexo de sua verdadeira natureza.

Makoto (sinceridade completa): Quando um samurai afirma que irá fazer aquilo que ele prometeu, assuma que a tarefa está completa. Um samurai não faz promessas; para ele, falar e agir são a mesma coisa.

Chugo (dever e lealdade): Um samurai sente-se responsável por suas ações e pelas conseqüências dessas ações, e é leal às pessoas que ele se importa. A lealdade de um samurai para com seu lorde é inquestionável e não pode ser questionada.

 

O Código dos Cavaleiros

Os cavaleiros são uma organização ampla e solta, vagamente baseada nos cavaleiros da távola redonda. Eles representam o pensamento medieval cavalheresco, que figura em livros como Eurico, o presbítero ou em manuais de RPG como o Livro Completo do Guerreiro. Este é um código adequado a cavaleiros bondosos.

A coragem e a empreitada são ferramentas na obediência à ordem.

Defender o cumprimento de uma missão, até a morte.

Respeitar todos os nobres e iguais; para os inferiores a cortesia.

O combate é a glória; a batalha é o verdadeiro teste do seu valor pessoal; a guerra é suportada pelo ideal da cavalaria.

Prefira a morte antes da desonra.

 

Omerta

O “código de silêncio” da Cosa Nostra nunca foi escrito ou mesmo codificado de outras formas. Mas pode ser usado como um bom código para uma guilda de ladinos ou outra organização criminal. Uma das interpretações segue abaixo:

Respeite as ordens de seus superiores e faça com que sejam cumpridas.

Sempre procure maneiras de enriquecer a Família.

Não esconda ou roube dinheiro da Família.

Respeite os mais velhos e a sua organização.

Nunca deixe um débito não-pago.

Nunca se atrase a pagar seus débitos.

Nunca seja pego.

Se for pego, o silêncio é a seu novo e único idioma.

 

O Código dos Paladinos

Mais restritivo que o código da cavalaria, o código dos paladinos é um dos mais controversos da fantasia medieval. Sempre assolado por questões e interpretações morais modernas, ele se mantém como um dos códigos mais difíceis de serem seguidos.

Nunca cometa um ato maligno.

Respeite a autoridade legitimamente estabelecida.

Aja sempre com honra (não minta, não trapaceie, não use veneno, e assim por diante).

Ajude aqueles que precisam, mas nunca auxilie ações ou personagens malignos ou caóticos.

Puna todos os que ameaçam os inocentes.

 

Não se meta comigo.

Este é um código relativamente curto, inspirado nas histórias dos vikings e dos bárbaros à moda cimeriana. Servem bem para vários tipos de personagens como bárbaros, guerreiros e rangers.

Eu não serei enganado.

Eu não serei insultado.

Eu não me deixarei ser agredido.

Se eu não faço isso com os outros, exijo deles o mesmo respeito.

 

O “código” dos ladinos

Ladinos “honrados” podem fazer uso deste código, voltado para uma visão mais heróica da capacidade de subtrair pessoas de itens de valor.

Nunca roube de outro membro da guilda.

Nunca “tome” o trabalho dos outros,

Nunca deixe que seus assuntos pessoais interfiram nos assuntos da guilda.

Nunca atraia atenção para a guilda, e especialmente, jamais atraia a atenção dos senhores das cidades.

10% do lucro de udo o que você conseguir pertencem a você; o resto pertence à guilda.

Não assuma contratos que envolvam assassinato e procure matar apenas em legítima defesa. Assassinatos atraem desnecessária atenção.

 

O código dos Hassassins

Este código aparece no jogo Assassin’s Creed (Xbox 360, Play 3). Particularmente bom para personagens caóticos.

Nunca deixe que sua arma prove a carne de um inocente.

Sempre cumpra a sua missão, ou morra tentando.

Mate com discrição e rapidez, demonstrando piedade com seus inimigos.

Sempre obedeça ao grão mestre.

Seja resoluto.

Mate todos aqueles que se interporem no seu caminho e no cumprimento de sua missão.

 

Isso é permitido pela lei?

 

Imagine a cena: cidade medieval qualquer, ferreiro e vendedor de armas.

Ferreiro: Espadas senhor? Desculpe, não vendo estas peças aqui. A sua venda foi proibida pelo duque, anos atrás quando seu filho foi morto num duelo. Na verdade eu aconselho que o senhor guarde a sua bem escondida: mesmo o porte por visitantes é proibido nestas bandas.

Você já parou para pensar nas leis do seu universo de fantasia medieval? O que é possível, o que é permitido, o que é punível com multas, exílio ou morte? O que você conhece de leis? Que relação as leis têm com o povo que vive sub seu julgo e proteção? Estas e outras questões vão ser discutidas neste pequeno artigo.

O que podemos entender por lei? A lei funciona como uma cola invisível que mantém a sociedade unida. É ela que determina a parte coercitiva da vida em sociedade, refletindo os padrões culturais, ético se valorativos da vida e dos costumes. É observando as leis de um povo que podemos entender como eles agem, ou pelo menos, as aspirações daquele povo.

A lei escrita dá poder ao rei e ao cidadão comum, assegura direitos e deveres. É uma espécie de troca: os cidadãos trocam parte de sua liberdade pessoal para que possam viver naquela sociedade, aproveitando suas benesses.

Historicamente falando o primeiro código de leis escrito foi o chamado Código de Hamurabi, compilado pelo próprio, no ano 1700 aC. O código de Hamurabi expõe as leis e punições caso essas não sejam respeitadas. O texto legisla sobre matérias muito variadas, da alçada dos nossos códigos comercial, penal e civil. A ênfase é dada ao roubo, agricultura, criação de gado, danos à propriedade, assim como assassinato, morte e injúria. A punição ou pena é diferente para cada classe social. As leis não toleram desculpas ou explicações para erros ou falhas: o código era exposto livremente à vista de todos, de modo que ninguém pudesse alegar ignorância da lei como desculpa. No entanto, poucas pessoas sabiam ler naquela época (com exceção dos escribas).

Outros códigos não escritos preferem confiar em Deus ou em qualquer entidade superior para resolver pendências. É comum que em sociedades mais primitivas – e mesmo em algumas mais avançadas – o julgamento por combate venha a resolver pendências. Deus dará a vitória àquele que estiver certo.

Algumas sociedades preferem confiar no julgo da força: aqueles que são fortes ou indispensáveis para a sociedade ganham uma certa imunidade perante ela. Mas nenhum conjunto de leis desrespeita a vida em sociedade. Elas existem, com certeza, para garanti-la.

Num mundo de fantasia medieval gostamos de usar um arremedo rústico de nossa própria compreensão da nossa lei. Sabemos que é proibido roubar e às vezes pegamos emprestadas as leis que vimos em filmes ou em livros de história. Um mestre amigo meu era especialmente severo na punição de ladinos pegos em ato: as mãos eram cortadas em praça pública.

Vale ressaltar que quanto mais ordeira for a sociedade mais duras serão suas leis. E por ordeira não significa ser necessariamente bom. Uma sociedade regida por um tirano teria leis rígidas que justamente garantiriam a permanência do tirano, pressionando seus desafetos. Uma sociedade mais libertária e menos ordeira teria leis menos rígidas.

Os delitos também podem variar enormemente de uma cultura para outra. No Japão feudal, causar incêndios era o bastante para a pena capital: ser crucificado de cabeça para baixo ou enterrado vivo a porta de uma cidade movimentada. Na Arábia dá-se muita importância a questão da fidelidade feminina: mulheres pegas em adultério são apedrejadas até a morte. Em alguns estados dos EUA o fato de cuspir num policial pode levar você à prisão perpétua.

E como determinar o meu conjunto de leis? Observe que as leis variam enormemente de locais para outros e de nada adianta a lei se você não pode fazer com que ela seja cumprida. Veja por exemplo o caso da maioria dos vilões de fantasia medieval. Mesmo os mais fracos deles jamais são levados à justiça porque os NPCs não podem com eles. Chega a ser realmente engraçado que Keldor tenha matado dezenas de aldeões e ninguém faça nada, mas quando o seu PJ mata um meio-orc bêbado numa taverna todos os guardas da cidade aparecem para te prender.

O ideal é criar um código de leis baseado na conduta moral daquele povo. Vamos pegar, por exemplo, os elfos de GOG. Eles são apaixonados pelo conhecimento e pela magia, desprezando as coisas naturais. O que seria um crime para pessoas que agem dessa forma? Qual seria o pior crime possível? A destruição de livros ou o assassinato de um professor ou mestre, com certeza. Crimes menores envolveriam o roubo, o adultério, entre outras práticas. Já para os anões a demonstração de covardia perante o combate deve ser o pior crime que existe. Além de já estar condenado pelos deuses anões, aquele que foge deliberadamente de um combate, acometido de medo, pavor, pânico ou semelhantes é tido como um proscrito que não tem mais lugar na gregária sociedade anã. Assim, muito pior que a morte, a marcação em ferro quente com o selo dos exilados e o exílio é a pior punição que se pode dar. E para os comerciantes e libertários gnomos? Ora, o roubo seria imperdoável para uma raça de comerciantes. Em menor grau o adultério seria pouco mais que uma contravenção. Bem ao contrário da sociedade Haravita que tem o adultério como um crime que só perde para a blasfêmia ou para a traição perante o reino.

Seja lá qual for a forma como a lei se impõe no seu cenário, ela deve ser pouco mais que um elemento de pano de fundo. A não ser que você esteja mestrando uma campanha a de advogados, no melhor estilo Ally McBeal, ela não passa de uma curiosidade que pode ajudar, ou não os jogadores. O ideal é que você pegue como modelo o código de Hamurabi ou qualquer outro código que você tenha acesso e crie algumas leis. Não deixe de comentar a existência delas quando os jogadores estiverem na taverna ou na loja de armas. Deixe que as leis fiquem tão claras quanto o fato das tavernas venderem vinho!